domingo, 27 de junho de 2010

Palavras encantadas

Rachel de Queiroz, uma das cearenses mais ilustres de todos os tempos, marcou seu nome na história da literatura e do jornalismo brasileiro. Vanguardista de nascença, Rachel foi um dos primeiros nomes femininos prestigiados da nossa literatura. Desde muito cedo ela criou contato íntimo com os livros, provando mais uma vez que eles são essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade saudável.

Rachel começou de forma prematura sua vida de escritora e, por nossa sorte, não parou tão cedo, até 2003, ano da sua morte, ela serenamente escrevia. Dizia, certa vez, ao completar incríveis 90 anos, que não escrevia por prazer, mas sim porque precisava se sustentar. Até hoje não sabemos se foi uma piada desconcertante ou uma pretensiosa esnobação, já que ela nasceu com o dom de encantar e comover as pessoas por meio de seus textos. Queiroz serve de exemplo para essa moçada que sonha em seguir a vida como escritor, seu primeiro livro foi escrito quando ela tinha apenas 20 anos. O Quinze, título que ela deu ao livro escrito em 1930, foi baseado em percepções próprias. Ela e sua família viveram a seca do ano 15 daquele século e com essa experiência ela escreveu sua principal obra. 

O livro foi o trampolim de Rachel de Queiroz para a imortalidade, inicialmente teve mil exemplares de tiragem no Ceará, mas a crítica foi tão positiva que logo ele foi enviado para o Rio de Janeiro e São Paulo. O Quinze e sua autora ganharam o mundo, foi traduzido para o francês, inglês, alemão e japonês.

Rachel também foi um grande expoente da nossa imprensa. Além de escrever para importantes jornais, como o Correio da Manhã e o Diário da Tarde, ela por muitos anos foi cronista da revista O Cruzeiro, que marcou a história do jornalismo brasileiro. 

Na década de 50 ela começou a escrever para o teatro, de sua autoria foram encenadas peças que falavam de temas bem brasileiros. Não só suas peças, mas seus livros, crônicas e contos representavam o povo e o imaginário nacional com grande perfeição. Não por acaso algumas das suas obras foram adaptadas para o cinema e televisão, todas com grande sucesso.

Rachel de Queiroz conseguiu agradar todos os públicos, desde os mais humildes com sua narrativa de identificação, até os mais eruditos, com a qualidade irrepreensível dos seus textos. Até mesmo as crianças foram conquistadas pela Rachel que escreveu alguns livros para os pequeninos e todos com enorme aceitação.

Não só os adultos e as crianças foram conquistados pela Rachel, mas os imortais também! Em 1977 Rachel de Queiroz foi eleita uma imortal pela Academia Brasileira de Letras e passou a zelar pela literatura brasileira e pelo nosso português. Ocupando a cadeira número 5, que antes foi fundada por Raimundo Correia, e tornou-se a primeira mulher a entrar na ABL.
Foram inúmeras as contribuições de Rachel para a cultura brasileira, além de escrever para todas as camadas e idades, ela fez um importante trabalho de traduzir importantes obras para o nosso idioma, entre elas livros de Dostoiévski e Balzac.
Sabia também fascinar em conjunto, escreveu na companhia de outros monstros da literatura, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e a sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek, com quem escreveu sua própria autobiografia chamada Tantos Anos.

Certamente uma das suas grandes honras e servindo como ato comprobatório de sua importância, Rachel de Queiroz recebeu, entre tantos outros, um dos principais prêmios da literatura portuguesa, o Prêmio Camões e também o prêmio brasileiro Juca Pato, entregue pela União Brasileira de Escritores.
Sem dúvida Rachel de Queiroz foi uma das maiores escritoras que brotaram no Brasil. Leitora e escritora prematura, escreveu para adultos e crianças, colaborou com o jornalismo, traduziu obras de suma importância, continuou na ativa até os últimos anos da sua longa vida e se estivesse viva em 2010, ela completaria 100 anos de sabedoria. Rachel de Queiroz, um orgulho nacional, que hoje é nome de prêmio de programa de tevê, emocionou gerações com suas palavras encantadas.

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