Ontem participei do protesto a favor de um transporte público,
digno, acessível, de qualidade, e principalmente, pelo direito democrático de
protestar! Faz alguns dias que por meio das redes sociais estou demonstrando
apoio ao movimento e criticando a truculência do governo acerca do legítimo
direito de protestar. Para mim não fazia sentido ficar gritando pelo Facebook e
não fazer nada, além disso, precisava ir até o olho do furacão e ver o que é a
realidade segundo meus olhos e não segundo a imprensa ou depoimentos de
terceiros.
Chegando à concentração em frente ao Theatro Municipal confesso
que estava assustado, era meu primeiro protesto e sabia que a PM iria pegar
pesado. Estava tudo na maior paz. Muitas bandeiras, muitos cartazes, flores e
jovens heroicos em brado retumbante. Quando começou a passeata meu coração bateu
mais forte, me benzi em silêncio e caminhamos em direção a av. Ipiranga. Três maloqueiros estavam pixando lojas e logo
foram repreendidos pela maioria, inclusive por mim. Ao chegarmos na Ipiranga eu
tomei um susto, éramos muitos jovens heroicos, não tinha até então noção da
quantidade de pessoas. E tudo pacífico, vez ou outra alguém subia onde não
devia e um coro de “Desce, desce, desce” iniciava. As pessoas nos prédios eram
convidadas a participarem e a quantidade de jovens heroicos só aumentava. Eu
estava surpreso com a civilidade e a entrega de todos aqueles participantes.
Realmente não fazia o menor sentido intitular aquelas pessoas de bugios
vagabundos, como fizeram dois dias antes.
Ao chegamos à rua da Consolação, bem perto do Mackenzie, bombas e tiros foram
voltados para os manifestantes pacíficos. Foi uma truculência desmedida. Daí em
seguida foi um show de horror, jovens heroicos correndo com flores e cartazes nas
mãos de policiais com escudo, cassetete, bombas e armas. Atravessamos a praça Roosevelt e caímos na
Augusta. Lá eu percebi que estava fazendo a coisa certa. Dezenas de carros
parados no meio da rua, impossibilitados de andar, com vários motoristas
batendo palmas, alguns abrindo os vidros e incentivando, muitos moradores nas
janelas aplaudindo e cantando. A população estava finalmente acordando. (óbvio
que havia motoristas com cara amarrada e bravos com toda aquela “baderna do bem”).
Nenhum carro ou pessoa, repito, nenhum carro ou pessoa foi agredido. A polícia
fechou a Augusta e subimos pela Bela Cintra. Ninguém ali queria guerra com os
policiais, queríamos apenas mostrar a força da sociedade consciente. Novamente
Tropa de Choque, Cavalaria e mais bombas estavam sendo despejados nos jovens
heroicos. Era mais de 8 da noite, eu resolvi que já tinha feito minha parte por
um país melhor.
Fui embora sozinho. Voltei para a Augusta, fui cercado em
frente ao Ibotirama pela Tropa de Choque, junto com outros civis e pouquíssimos
manifestantes, eles apontaram arma para nós, uma senhora do meu lado chorava
desesperadamente, a peguei pela mão e fugimos para a Frei Caneca. Para minha
surpresa havia mais policiais atirando na rua também na Frei Caneca. Recapitulando,
havia Trope de Choque e Cavalaria na Bela Cintra, havia Tropa de Choque
apontando armas para as pessoas na Augusta ONDE NÃO ESTAVA ACONTECENDO A MANIFESTAÇÃO,
apenas pessoas como eu indo para casa ou civis sem nenhuma relação com os
manifestos e havia policiais na Frei Caneca. Subi então pela Peixoto Gomide,
única rua que não havia policiais e mais alguns manifestantes que não estavam protestando.
O que vi de errado: alguns deles estavam chutando os lixos, fazendo isso de
forma isolada não é protesto, mas foi um ato tão pequeno comparando com tudo
que tinha visto até então.
Cheguei até a Paulista e não entendi porque ela estava
fechada se o movimento não havia chegado ali. Muitos policiais, gritaria de
civis e de longe vi uma pessoa sendo chutada por policiais. Fiquei pensando o
que ela sozinha poderia ter feito de tão grave para ser chutado por vários
policiais. Alguém passou gritando do meu lado dizendo que a PM estava batendo
em qualquer pessoa, independente se estava na manifestação. Agora entendi
porque até a imprensa foi agredida e levaram bala da polícia. A violência
policial estava tão desproporcional que acabou sobrando para qualquer pessoa
que estivesse na rua.
Segunda-feira, dia 17
de junho, caso o Governo não abra para negociações (como o Ministério Público
já pediu e o Governo se negou), eu estarei novamente no meio desses jovens
heroicos em brado retumbante conquistando com braço forte nossa liberdade de
poder sonhar por um mundo melhor, mais justo, mais seguro e mais íntegro.
Assinado,
Um protestante pacífico