O Carnaval em São Paulo muitas vezes se resume em desfiles de escolas de samba e apesar do que alguns cariocas pregam, a capital paulista não é o túmulo do samba. Prova disso é a existência de renomadas escolas de samba, entre elas podemos citar a Nenê de Vila Matilde, que na verdade está instalada no bairro da Penha, a Rosas de Ouro e a Vai-Vai.
Certa vez fui conhecer um ensaio a convite da Lygionilda, garota com olhos de gato que trabalha no aeroporto e fala igual a um travesti, apesar de ter órgãos genitais femininos. O ensaio era na quadra da Vai-Vai, no Bexiga, como eles costumam dizer e não Bela Vista, como os moradores costumam dizer. De cara notei que o ensaio não acontecia na quadra, mas sim na rua e ela, obviamente, interditada.
Decidi brincar com minha aparência, por ser loiro e muitos dizerem que tenho aparência de estrangeiro, eu fingi ser holandês. Escolhi essa nacionalidade porque sei que o brasileiro típico mal sabe onde fica a Holanda, portanto, não conseguiria pegar minha pegadinha por conta de algum deslize meu acerca da cultura. Também decidi ser holandês por um dia porque eles falam prioritariamente o holandês, sua língua mãe, e outros idiomas, como o inglês, eles aprendem no dia-a-dia, de modo mais informal, portanto, caso eu escorregasse no inglês, ninguém poderia apontar o dedo na minha cara e dizer que sou uma farsa.
Fui lá, fazer o gringo que mora dentro de mim sambar. Eu, assim como qualquer estrangeiro animadinho, tenho total convicção que sambo bem pra dedéu, apesar de não sambar nada e geralmente tropeçar nos passos. Minha maior fonte de inspiração é o mestre-sala, que rodopia e pula feito uma perereca reumática. Às vezes também me desce, como uma pomba-gira, minha maior referência “sambística”, a Globeleza, e danço loucamente.
Comecei meu show particular, não que essa fosse minha intenção, e não demorou muito para as pessoas apontarem, rirem discretamente, pouco depois nem tão discretamente e não muito depois, a tirarem foto, filmarem e me imitarem – sarcasticamente -. Virei atração no ensaio da Vai-Vai, competindo a atenção com as mulatas de minissaia.
Os outros gringos, os de verdade, eram bem mais discretos, no máximo dois passinhos para lá e dois para cá, com os dedos indicadores apontados para o céu e os braços em ângulo de 90º graus. Fiz várias amizades breves, treinei o inglês do povo, não que o meu era bom a esse ponto, aprendi a falar palavras em português com o sotaque mais cômico que eu conseguia imitar e a noite transcorreu na maior alegria.
Descobri em mim um dom, sou o maior pé de valsa, quer dizer, maior pé de samba de toda a Holanda. Rotterdam ficou pequena demais e no ano seguinte, este de 2010, voltei para a quadra da Vai-Vai, ouvir a bateria estremecer meu corpo com aquela batida fenomenal e sambei novamente, agora embaixo da chuva e agradeci a Iemanjá (???) pela noite molhada de samba.
Um comentário:
E na Holanda há carnaval Sr pé-de-samba? Não sabia que tinha curtido Vai-Vai. Quase a gente se encontra no acaso, sem causos.
Beijo!
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