quinta-feira, 26 de junho de 2014

elevação espiritual

Antes de ir trabalhar eu li uma crônica da Martha Medeiros que relatava a raridade que é parar e olhar nos olhos das pessoas, ser gentil com estranhos e dar uma pausa nessa loucura que é a vida na cidade grande.
Terminada a crônica prometi a mim mesmo estar mais atento e não me contaminar com a naturalidade do modo automático que a vida nos propicia. Em outras palavras, ser mais empático com os conhecidos e desconhecidos.

Há poucos minutos eu estava andando pela calçada quando um senhor do outro lado da avenida me grita pedindo para esperar. Imediatamente percebi que era minha grande chance de colocar em prática minhas decisões matutinas. Esperei calmamente o semáforo abrir e ele caminhar até mim "seria uma informação de onde fica tal rua ou seria um pedido de ajuda financeira?".

O senhor chegou até mim, fez questão de me cumprimentar com a mão (havia prometido olhar nos olhos, ser gentil e ouvir, essa coisa de toque físico não estava no script, mas vamos lá...) e falou com certa dificuldade, parecia doente e logo imaginei que era dinheiro que ele precisava. Não entendi todas as palavras do seu pedido, ele estava um pouco confuso, fui pescando "eu + doente + barriga + dor + médico + pé descalço + barriga". Não consegui montar uma frase que fazia sentido usando essas palavras e nessa ordem, então pedi que ele repetisse. Prestei mais atenção e com espanto perguntei "O senhor quer que eu coloque meus pés descalços em sua barriga porque seu médico lhe receitou isso?". Sim, era esse o pedido dele!


Eu procuro incessantemente elevação espiritual, mas isso foi demais para mim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A entrega a um novo amor

Tudo começou com um Starbucks.
Desde o início eu disse que não queria, que estava muito bem sem, que me sentia pleno o suficiente para seguir minha vida sozinho, sem ele.
As visitas ao Starbucks começaram a ficar mais frequentes que eu desejava. Frappuccino com base creme ou chocolate quente desta vez? A troca de olhares mais intensa.  Acho que Frappuccino! Quando dei por mim, o desejo já estava despertado.
Eu repetia para mim mesmo as vantagens de não me entregar. Todos os argumentos eram perfeitamente lógicos e compreensíveis.
Em ocasiões especiais eu me permitia o desfrute. Afinal de contas, eram apenas em ocasiões especiais, não era frequente. De repente comecei a criar ocasiões que nada tinham de especiais, eram desculpas esfarrapadas dadas pelo meu subconsciente.
Há poucas semanas eu chutei o balde, quero mais que se dane tudo isso. Eu vou correr para o abraço e me deliciar com meu novo amor. Uma paixão antiga, quase uma paixão platônica dos tempos que eu ainda era criança. Seu cheiro sempre foi meu predileto, a ponto de fechar os olhos quando estava por perto. Não sei se é um caminho que tem volta, mas estou envolvido pelo café!
Aos 6 anos, na casa da minha avó paterna, eu decidi que não gostava de café. Motivo? Sei lá, apenas decidi. Nunca mais tomei, apesar de ser meu cheiro predileto desde meus primórdios. Já adolescente decidi tomar uma xícara porque insistiram muito. Passei mal. Anos depois em uma reunião na B!Ferraz, uma agência de promoção de São Paulo, eu decidi aceitar uma xícara de café para não fazer desfeita e porque queria parecer confiável, eu precisava fechar negócio com eles. Desta vez foi menos traumático e decidi que daqui em diante apenas tomaria café em xícaras estilosas e sendo em agências cools. Para meu desespero, virou rotina ir para agências cools e conhecer xícaras estilosas... Mas, nunca gostei de café, sempre aturei com muito pesar.

E cá estou, sem visitar agências e volta e outra tomando café, e o pior, tomando café por prazer, por iniciativa própria e sem o objetivo de fechar um negócio. Eu sei que café amarela os dentes, eu sei que também pode te deixar dependente psicologicamente e ainda assim nutro essa vontade. Ontem mesmo eu pensei “Tenho café em casa, coador e garrafa térmica, por que não procurar no Google como fazer café?”.  A coerência logo voltou e abortei a ideia. Café agora só de vez em quando e pode até ser em copo plástico, como foi agora.