Antes de ir trabalhar eu li uma crônica da Martha Medeiros
que relatava a raridade que é parar e olhar nos olhos das pessoas, ser gentil
com estranhos e dar uma pausa nessa loucura que é a vida na cidade grande.
Terminada a crônica prometi a mim mesmo estar mais atento e
não me contaminar com a naturalidade do modo automático que a vida nos
propicia. Em outras palavras, ser mais empático com os conhecidos e
desconhecidos.
Há poucos minutos eu estava andando pela calçada quando um
senhor do outro lado da avenida me grita pedindo para esperar. Imediatamente
percebi que era minha grande chance de colocar em prática minhas decisões
matutinas. Esperei calmamente o semáforo abrir e ele caminhar até mim
"seria uma informação de onde fica tal rua ou seria um pedido de ajuda
financeira?".
O senhor chegou até mim, fez questão de me cumprimentar com
a mão (havia prometido olhar nos olhos, ser gentil e ouvir, essa coisa de toque
físico não estava no script, mas vamos lá...) e falou com certa dificuldade,
parecia doente e logo imaginei que era dinheiro que ele precisava. Não entendi
todas as palavras do seu pedido, ele estava um pouco confuso, fui pescando
"eu + doente + barriga + dor + médico + pé descalço + barriga". Não
consegui montar uma frase que fazia sentido usando essas palavras e nessa
ordem, então pedi que ele repetisse. Prestei mais atenção e com espanto
perguntei "O senhor quer que eu coloque meus pés descalços em sua barriga
porque seu médico lhe receitou isso?". Sim, era esse o pedido dele!
Eu procuro incessantemente elevação espiritual, mas isso foi
demais para mim.
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