quinta-feira, 26 de junho de 2014

elevação espiritual

Antes de ir trabalhar eu li uma crônica da Martha Medeiros que relatava a raridade que é parar e olhar nos olhos das pessoas, ser gentil com estranhos e dar uma pausa nessa loucura que é a vida na cidade grande.
Terminada a crônica prometi a mim mesmo estar mais atento e não me contaminar com a naturalidade do modo automático que a vida nos propicia. Em outras palavras, ser mais empático com os conhecidos e desconhecidos.

Há poucos minutos eu estava andando pela calçada quando um senhor do outro lado da avenida me grita pedindo para esperar. Imediatamente percebi que era minha grande chance de colocar em prática minhas decisões matutinas. Esperei calmamente o semáforo abrir e ele caminhar até mim "seria uma informação de onde fica tal rua ou seria um pedido de ajuda financeira?".

O senhor chegou até mim, fez questão de me cumprimentar com a mão (havia prometido olhar nos olhos, ser gentil e ouvir, essa coisa de toque físico não estava no script, mas vamos lá...) e falou com certa dificuldade, parecia doente e logo imaginei que era dinheiro que ele precisava. Não entendi todas as palavras do seu pedido, ele estava um pouco confuso, fui pescando "eu + doente + barriga + dor + médico + pé descalço + barriga". Não consegui montar uma frase que fazia sentido usando essas palavras e nessa ordem, então pedi que ele repetisse. Prestei mais atenção e com espanto perguntei "O senhor quer que eu coloque meus pés descalços em sua barriga porque seu médico lhe receitou isso?". Sim, era esse o pedido dele!


Eu procuro incessantemente elevação espiritual, mas isso foi demais para mim. 

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