Quando embarquei para vir morar na Austrália eu tinha dois grandes objetivos em relação a conhecer lugares. Réveillon em Sydney (✓done) e nadar na Grande Barreira de Corais (✓done as well). A Austrália é muito além disso, mas esses eram meus desejos e não consegui sossegar até cumprir ambos.
Consegui uma promoção incrível de passagem aérea para Cairns e convidei uma amiga para viajar comigo. Obviamente apenas depois de comprar a passagem que fui pesquisar e descobrir que estamos na temporada das águas-vivas mortais e de chuva em Cairns. Para sorte minha e da Lorena fizeram dias lindos e só vi chuva à noite, já de pijaminha para dormir.
Cairns é uma cidade pequena de 120 mil habitantes que basicamente vive em função da Great Barrier Reef e o turismo em torna dela. No centrinho basicamente só se encontra agências de tours vendendo os mesmos pacotes pelo mesmo preço. Eu já tinha o contato de uma agência e fui direta nela. A mulher conseguiu me convencer a não fazer scuba diving e comprar apenas snorkeling, o que até agora não sei se me arrependi ou não.
Os pacotes de um dia de passeio no reef são à partir de 99 dólares. O valor vai subindo conforme a localização do reef, os passeios inclusos e o barco. Comprei um caro do barco Tusa Dive 66 e apenas snorkeling. Eu não sou bom nadador, tenho pavor de nadar onde não alcanço o chão com os pés. O oceano, como eu bem sabia, é mais fundo que a piscina de casa. Já em alto mar depois de mais de uma hora navegando o barco parou, recebi as instruções de como fazer snorkeling (inclusive fui avisado caso eu encontrasse tubarões eu não deveria me preocupar porque ele são “like a puppies”) e eu perguntei para o instrutor “Ok e quando vamos chegar à grande barreira de corais?”. Ele disse que já estávamos lá! Eu imaginava um mar azul clarinho e que do barco eu poderia ver grãos de areia no fundo do mar. Não era o caso, a água estava escura e não era possível ver nada. Eu insisti dizendo que eu me sentia na Praia Grande e não em Cairns, ele me respondeu que o dia estava nublado e por isso só era possível ver de dentro da água. Calcei meu pé de pato, avisei que se eu começasse a me debater na água que pelo amor de Deus me resgatassem imediatamente, peguei um macarrão que flutua por precaução e me joguei! Primeiramente eu não afundei! E sim, o instrutor estava coberto de razão, a água era imaculada, totalmente transparente e eu pude me maravilhar com um novo mundo. Centenas de peixes multicoloridos e de diversos formatos nadando a centímetros de mim e uma floresta de corais logo embaixo dos meus pés de pato. Era tudo tão incrível, eu não me afogando ou afundando, os peixes nadando ao meu redor, a beleza dos corais, que quando dei por mim eu estava muito longe do barco. Nesse momento a síndrome do pânico veio dar o ar da graça, mas uma criança de 8 anos me ajudou... Tive problemas com meu equipamento, comecei a beber água e dar uma pequena afogadinha. Quem me acudiu? Jason, a criança de 8 anos que nadava 50x melhor do que eu.
Foi um passeio de um dia inteiro e duas paradas de mergulho, eu particularmente preferi o primeiro e aproveitei melhor o segundo, quando estava mais confiante (sem macarrão flutuador) e aprendi a respirar melhor pela boca. Mesmo no início do passeio, em que eu estava usando uma polêmica camisa floral e laranjona com um chapéu de pirata, minha beleza acima da média fez eu receber olhares do tipo “te quero!” dentro do barco. O mar todo para nadar e não é que vieram nadar e se esfregar na minha pessoa? Sério, às vezes preferiria ser feio (brinks! Nunca!). Eu estava lá apenas para procurar o Nemo, dar um beijo na Dory e abraçar uma tartaruga bem linda. Dory eu vi aos montes, já o famoso peixe-palhaço eu não vi exatamente o Nemo, mas um mais escurinho, não era tão laranja, igual minha camisa. Já tartaruga... Tive que me contentar em abraçar meu travesseiro mais tarde. Não vi uma sequer!
Não vou dizer que o passeio foi perfeito, pois eu me arrependi em não ter contratado o scuba diving. Não que quem fez scuba viu muito mais coisas do que eu, queria mesmo era pela experiência de fazer scuba. Contudo, não tenho certeza se eu conseguiria mergulhar, eu tenho medo que dê merda. Falando em merda, eu estava observando três peixões quando decidi fazer carinho em um, ao me aproximar um dos peixes fez coco! Um montão, era muito líquido com pedaços sólidos da cor marrom saindo de dentro dele. Achei nojento e nadei para longe. Também fui perseguido por uma criatura de menos de 2cm, não sei especificar que tipo de criatura, só sei que fiquei apavorado.
É altamente aconselhável não nadar nas praias de Cairns por dois grandes motivos: crocodilos de água salgada e água-viva mortal. Por isso, na cidade tem uma gigantesca piscina pública de água salgada e o calçadão beira-mar é na verdade um deck, para proteger os pedestres de possíveis ataques de crocodilos. A piscina é ótima! Super recomendo.
Outro passeio bacana é ir para Port Douglas, uma cidade a 70km de Cairns. Aluguei um carro e a viagem até Port Douglas por si só já é um tremendo passeio. A famosa Captain Cook Highway é uma linda rodovia, de um lado a rainforest e do outro praias. Paramos em algumas, uma delas estava totalmente deserta. A coisa mais linda, água cristalina, chão coberto por pedrinhas e muita paz. A água estava perfeita, quase abortamos a ideia de ir para Port Douglas.
Port Douglas nem é tudo isso, tivemos que nadar dentro de um cercadinho de rede que impede a entrada de água-viva e crocodilos. Almoçamos em um train sushi e pegamos estrada para explorar a rainforest. Chegamos em Mossman Gorge e sabíamos que ali havia um rio bem bonito. Achado o rio nos jogamos nele, descobrimos na prática que a correnteza era bem forte. Ela nos levou longe. Minha amiga que se dizia ótima nadadora foi salva por euzinho, que nem sei nadar direito. Ela, que não tem limites na água, queria porque queria descer de bunda de uma mini cachoeira, tipo tobogã. Observei o povo fazer isso, eram todos homens destemidos e bons nadadores. Aquela aventura não era para mim. Eis que um Pokémon (apelido carinhoso que chamo os asiáticos gordinhos, engraçados e com cara de virgem) estava se preparando para descer. Ele desceu e foi um sucesso. Embora, pensei, os Pokémons podem flutuar e são macios, logo são imunes a essas aventuras. Em seguida uma asiática amedrontada também fez a mesma loucura. Lorena, minha amiga, praticamente me obrigou a descer com ela. Só topei se fosse de mãos dadas. Depois de 5 minutos criando coragem e uma plateia se formando eu falei “Lore, segura. Nós vamos morrer!”. Aquele vídeo da Leila Lopes descreve tudo. Tudo girou, girou, nada mais vi, nada mais me lembro. Quando dei por mim eu já estava lá embaixo e VIVO! Eu nunca fiz uma loucura dessa no Brasil, por aqui na Austrália eu tive a péssima ideia de topar essa loucura? Não contente com o milagre da vida eu topei fazer de novo e desta vez sozinho. Não tive a mesma sorte, eu machuquei minha canela na descida da cachoeira, caí no fundo do rio, eu me afoguei, me debati, não consegui subir para a superfície, coloquei a cabeça para a fora, mas ainda estava morrendo e as pessoas estavam todas olhando, o Pokémon inclusive estava a 3 metros de mim e não moveu a bunda para me ajudar! Quando me agarrei numa pedra uma japonesa, outra desgramada que só viu minha desgraça, deu três tapinhas nas minhas costas “Are you ok?”; Eu estaria melhor se alguém se tivesse me ajudado... Aquele lugar já tinha dado para mim, mas a Lorena queria tirar fotos antes de ir embora. Lá fui eu de novo entrar no rio. Combinei que subiria numa pedra no meio do rio e lá faria poses sensuais/vulgares. Não sei por que tive essa péssima ideia. A pedra era pequena, julguei que seria fácil subir nela. Eu dei um vexame em público. O que me afoguei para subir naquela maldita pedra é impossível descrever. Duas fortes correntezas passavam por cada lado da pedra. Quando eu agarrei a danada não quis mais soltá-la (não sou trouxa!), porém não tinha força para subir nela. Eu vi as fotos depois, todo mundo estava me olhando com cara de pena!!! Pior quando uma senhora de quase 60 anos foi até mim e disse “pode se soltar, a correnteza não vai te levar embora, meus netinhos estão brincando logo ali, podem te segurar.” Depois de muito custo subi na maldita pedra, nessa altura todo mundo estava me olhando, preferi abortar a ideia das poses sensuais. Minha amiga depois de se mijar de tanto rir tentou subir na mesma pedra e não conseguiu! Não era fácil! (apesar dos netos da senhora subirem e descerem a todo o momento).
Era 3 e tanto da tarde, a gente ainda queria pegar um barquinho no rio Daintree que é infestado de crocodilos gigantes, os mesmos que fogem para o mar. Chegamos 5 minutos depois que o último barco partia. Eu praticamente deixei uma lágrima escorrer de tanta decepção. Continuamos a dirigir em direção a Cape Tribulation e encontramos uma nova entrada para o rio. Lá ainda tinha um barco para partir. O dono era tipo o Crocodile Dundee, um australiano bem caipirão, roupa de explorador, sotaque fortíssimo e super gente fina. Ele explicou que naquele momento possivelmente não iríamos ver crocodilo, eles não gostam das águas do verão. Desta vez a decepção foi menor. Para quem quiser ver crocodilo a rodo pelos rios da rainforest o Dundee aconselha ir entre junho e agosto.
Outra coisa interessante a fazer é abrir o Tinder na cidade! Eu recebi alguns convites hilários, o melhor foi “dodging crocodiles”. Pensei, que porra é essa? Dicionário diz que dogde é esquivar ou coisa parecida. Perguntei o que era exatamente isso e eis a resposta: “Means trying not be eaten by crocodiles while we hunt mud crabs.” Pior que ainda quis me convencer que era seguro, que os pais e a irmãzinha de 10 anos iam juntos. E pra dizer bem a verdade só não topei porque o passeio seria no sábado e vim embora na quinta-feira! hahaha
Resumindo, quem vier para a Austrália aconselho passar 3 dias em Cairns. Não conheço uma pessoa que tenha se arrependido.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
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