sábado, 28 de março de 2009

a desabrigada da Paulista

Residentes de cidades grandes estão acostumados a verem moradores de rua quase todos os dias. É uma triste realidade que a maioria da população já perdeu a sensibilidade humana de se chocar ao ver outra pessoa jogada e suja pelas ruas como se fosse um animal.
Eu não serei hipócrita e me integro a essa imensa massa que finge não ver o evidente. Nós podemos listar uma centena de argumentos e justificativas para tentar explicar a nossa falta de empatia. Alguns, a meu ver, até tem certa coerência, outros já são bastante preconceituosos.
A verdade é que solitariamente não podemos fazer muita coisa e ajudar não é algo tão simples. Dar uma esmola, talvez só trará amenidade naquele momento e perpetuará a condição dependente do pedinte; levar pra casa, oferecer o chuveiro do banheiro e doar umas roupas não é tarefa muito fácil. Bem, só quero dizer que a posição passiva junto ao problema é entendível, porém, a falta de sensibilidade e a perda da indignação é algo lamentável.

Gosto de usar exemplos pessoais para ilustrar o que escrevo aqui. Hoje andando pela avenida Paulista, endereço mais famoso de São Paulo, eu vi uma mulher dormindo na calçada. Digo mulher porque ela não parecia uma moradora de rua e nem um mendiga (o que não deixa de ser a mesma coisa), mas sim uma desabrigada. Ela estava vestida, com a cabeça sobre sua bolsa preta, parecia estar na rua fazia pouco tempo. Aquilo entristeceu meu coração. Fiquei imaginando as circunstâncias que a levou para rua, mesmo deitada e dormindo no chão duro da Paulista, ela parecia uma de "nós", uma cidadã comum, como qualquer outra, enxerguei nela humanidade. Uma humanidade que, às vezes, não é tão eminente em outros mendigos.
Talvez o que distancia essa minha visão dos outros moradores de rua seja sua depreciação, acabo - e acredito que a maioria das pessoas também - não enxergando uma pessoa na rua, mas sim um meio termo, toda aquela sujeira, aquela falta de modos de se portar, o olhar distante da realidade, ou então, o olhar dentro de sua crua realidade, faz com que os transeuntes não se identifiquem com aquele ser como alguém da mesma espécie.

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