quarta-feira, 2 de abril de 2014

O dia que tive Hepatite B por 80 longos minutos

Anualmente faço um check up geral, em 2013 fiz no próprio ambulatório da Natura e estava tudo ótimo comigo. Este ano usei minha velha tática de ligar para todos os consultórios dos arredores e marcar o melhor horário para mim. Marquei com tal de Dr. Roberto em frente ao Clube Pinheiros.

Ele me solicitou todos os exames possíveis e pedi também meu tipo sanguíneo, eu sempre peço e nunca memorizo. Fui ao HCor Diagnósticos na Cidade Jardim e semana passada, após o almoço, voltei para buscar. Eu sempre que faço esses exames fico no cagaço, não acho que eu esteja devendo, mas é um medo, assim como tenho medo de cobra, tenho medo de resultado de exame. Todas as vezes que faço meus exames até para a igreja eu vou rezar, não que eu seja católico, mas eu vou, porque vai que né... Desta vez não rezei, não fui à igreja, não lembrei do exame, tal era a minha total certeza que estava vendendo saúde. 

Eu obviamente não preciso de médicos para ler meus exames e dizer que estou saudável. Por isso eu nem marquei retorno com o Dr. Roberto. Abri meus exames no próprio HCor. Eram vários envelopes, o primeiro tudo ok, o segundo eu abro e a palavra POSITIVO pula em meus olhos. Meu coração deu uma pontada e só pensei “Ai meu Deus! É HIV?”. Bato os olhos novamente e leio O POSITIVO! Ufa, era apenas meu tipo sanguíneo (nunca mais o esquecerei depois desse susto!). Abro mais um envelope e o colesterol LDL, HDL, triglicérides e todos aqueles outros estavam muito bons. Abro mais um envelope (haja envelope, porra! Haja emoção, caralho!) vejo HIV não reagente, Hepatite C não reagente e Hepatite B deu reagente. Olhei de novo e não era erro de leitura, eu li aquilo mesmo. A pontada no coração voltou, dessa vez mais forte e acompanhada de suor e falta de forças nas pernas. Eu me arrastei até um balcão e pedi pelo amor de Deus por um médico que pudesse ler aquele exame para mim. Agora sim eu precisava de médicos instuídos para ler exames. Não havia um puto para me atender, simplesmente pediram que eu procurasse meu médico. Eu lá sabia o telefone do meu médico? Só lembrava que ficava na frente do Clube Pinheiros. Tinha uma amiga do trabalho me esperando no hall, eu estava pálido quando a encontrei, ela imediatamente perguntou o que aconteceu, pedi apenas que me tirasse dali e me levasse ao meu médico porque eu estava com Hepatite B. Ela tentou me acalmar “Você tem certeza que leu certo o exame? Relaxa não é o fim do mundo, todo mundo tem isso, talvez até eu tenha!”. Essa consolação não me ajudou em nada, há um ano a médica do ambulatório da Natura disse que meus exames estavam impressionantemente bons, como contraí essa doença? Namorei 2013 inteiro, ato sexual não poderia ser. 

Procurei o endereço do “meu” médico e simplesmente não achei, não conseguia digitar nada, minhas mãos tremiam. Decidi ir até o prédio mesmo assim e lá perguntaria na portaria. Estava chovendo forte e lá fui eu com um guarda-chuva pequeno enfrentar a tempestade dos céus e da minha vida. Chegando no consultório eu o encontrei trancado. Não acreditei, sentei numa cadeira e googlei “HEPATITE B TEM CURA?”. A resposta do primeiro resultado era não! Também li que se contrai em contato com sangue, sêmen, secreção vaginal ou saliva. Levando em consideração que eu estava em um relacionamento fechado e tenho pavor de sangue (meu ou alheio), concluí que eu contraí tomando caipirinha no canudinho de alguém!!! 

Saindo do “meu” médico pensei o que fazer da vida, precisava voltar para o escritório pegar minhas coisas. Eu já estava todo molhado, amuado e deprimido. Já até sentia meu fígado doer e todas as consequências que aquela doença causaria na minha vida e das pessoas que convivem comigo. Nisso 3 garotos, de uns 17 anos, atravessam a rua e passam correndo pelo meu lado. Aquilo me fez chorar, eu me lembrei de quando eu tinha 17 anos e tinha tanta vida e saúde. Peguei minhas coisas no escritório e decidi que precisava ir para um hospital, precisava falar com um médico. Enquanto isso liguei para uma amiga que trabalha com o Drauzio Varella, talvez ela tivesse informações privilegiadas ou palavras de sabedoria. Informações privilegiadas não encontrei de imediato, mas foi muito bom ter o apoio dela. 

Cheguei ao hospital 9 de Julho, fui direto para o pronto-socorro, sabendo que se eu chegasse com exames para serem lindos era possível não conseguir atendimento imediato, por isso eu já cheguei lá morrendo. Minha cara devia ser de moribundo, até mancando eu estava. Enquanto não era atendido pelo médico eu li e reli meus exames, queria encontrar brechas. Uma delas era: como eu estava doente se meu número de leucócitos estava estável? Outra brecha era que havia dois exames de Hepatite B, um total e outro com alguma expressão que não lembro agora. O primeiro deu NÃO REAGENTE e o segundo REAGENTE. Não queria me apegar em esperanças, eu sabia que estava doente. Dentre todas as pessoas esperando atendimento no pronto-socorro, visivelmente eu estava com a pior aparência. Tipo caso de internação. Logo fui atendido e o doutor “O que você está sentindo?”. Respondi que na verdade nada, mas tinha aberto meus exames e acabara de descobrir que tinha contraído uma Hepatite B. Peguei o exame, apontei e comecei a chorar. Ele leu com atenção e me perguntou “Você se vacinou contra a Hepatite B?”, respondi que não lembrava, lembro que me vacinei contra a Febre Amarela quando eu iria ao Amazonas. O médico com desprezo disse que meu exame dizia que eu fui vacinado contra a Hepatite B e estava imune à doença. Meu choro parou imediatamente, aquela foi a melhor notícia que ouvi na vida! Algo surreal aconteceu naquele consultório, eu não me contive e comecei a sambar na frente do médico mal encarado. Sambei, sambei, sambei. Tinha que comemorar. Fui embora com cara de quem ganha na Mega Sena, sorrindo e sambando. Notei olhares julgadores da sala de espera, mas nem dei bola, não é todo dia que se contraí uma Hepatite B, fica terrivelmente doente por 80 minutos e depois se cura desta maneira milagrosa. 

Minha alegria foi tanta que era 5 da tarde e invés de ir para casa ou maltratar meu fígado super saudável com uma cerveja, eu voltei para o trabalho, afinal de contas, estava mais saudável do que aqueles três moleques de 17 anos da Faria Lima. 

Depois desse susto minha vida ficou mais simples. Eu estava com um grande problema que não estava me deixando dormir direito há dias. Eu simplesmente desencanei e dois dias depois solucionei meu problemão. Estou com aquela sensação que nada é tão importante como a minha saúde. 

Quem já ouviu essa história da minha boca deu risada da minha cara, mas o desespero e o susto que passei não desejo a ninguém! Por isso, cuidem-se! A Tainah Medeiros, minha amiga que trabalha com o Drauzio, coincidentemente no dia seguinte foi cobrir um congresso sobre Hepatite. 

Ela publicou a matéria e fiquei impressionado sobre a atual situação dessa doença no mundo e no Brasil, além de alguns mitos e verdades muito bem explicados em um infográfico. Acho de utilidade pública ler esta matéria, se tiver 5 minutinhos, só clicar no link aqui.

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