sábado, 23 de agosto de 2014

O pum ético

Durante uma aula de Ética, na época da minha faculdade, aconteceu um fato inesperado comigo.

Os alunos não gostavam muito dessa aula, achavam que era bullshit. Eu também não via muita utilidade, apesar de que hoje sei a diferença entre ética e moral de uma maneira cirúrgica por conta dessa disciplina. A professora era bem simpática, falava muito da vida dela, até hoje eu me lembro de que uma vez, em sua adolescência, em que ela foi para uma balada com uma amiga e ao voltar juntas de madrugada, a amiga foi direto para a cama dormir, enquanto ela foi tomar banho e tirar a maquiagem. Até hoje quando chego de madrugada em casa eu me recordo dessa ocasião e me pergunto se outras pessoas têm a mesma força de vontade da professora e tomam banho antes de dormir. Eu durmo sujo mesmo e morro de medo de ser julgado por isso.

Voltando ao fato inesperado. Nesse dia os alunos estavam impossíveis, não respeitando a aula e conversando em voz alta. Eu era um desses malcriados. A professora se cansou e expulsou metade da sala de aula. Todos que estavam ao meu redor foram expulsos, eu não. Possivelmente porque a professora tinha grande apreço por mim. Após a expulsão eu me vi isolado na segunda fileira, não havia ninguém perto de mim. Ainda assim deveria ter uns 25 alunos dentro da sala. Finalmente a professora tinha uma plateia silenciosa e atenta.

Nesse momento as flatulências começaram a borbulhar dentro de mim. Não dei corda, de forma não intencional desconsiderei o problema, como se nada estivesse acontecendo dentro de mim. Até hoje eu me pergunto por que eu fiz isso! Segundos após, de forma inconsciente, eu simplesmente levantei minha nádega direita e soltei um pum! Não era qualquer pum, era um peido barulhento e com respeitáveis decibéis! Tudo aconteceu tão rápido e inesperadamente, que quando dei por mim, não tinha mais o que fazer. 
Imediatamente algumas garotas começaram a gargalhar aos berros, a professora, que estava a menos de 2 metros de mim, já tinha interrompido a fala e me encarava muda e de olhos esbugalhados.

Era primeiro ano da faculdade e se eu ainda tivesse alguma dignidade (digo isso porque eu me lembro que na primeira sexta-feira do ano letivo todos os alunos foram ao bar juntos, eu bebi mais que devia, subi numa mesa, tirei a roupa e falei mais do que devia. Então meus colegas de classe já sabiam que não era o mais normal de todos), provavelmente ela teria ido para o ralo pela eternidade.

Alguns alunos do fundão não ouviram a bufa e perguntaram o que tinha acontecido para a professora ficar em silêncio enquanto algumas pessoas riam até chorar. Eu me senti compelido a dizer a verdade, afinal de contas eu estava na aula de Ética e não tinha como mentir ou culpar o coleguinha do lado. Eu respondi de forma tímida “Eu soltei gases!”. Pronto, a aula acabou definitivamente. As mesmas meninas que gargalhavam começaram a passar mal de tanto rir e foram se recompor no toalete.

Apesar dessa história constrangedora esse acontecimento foi um fato que caiu no esquecimento. Talvez seja porque eu tenho tantas histórias constrangedoras, mas isso não vem ao caso no momento.


Por fim, a professora elogiou minha atitude e disse que gases são  naturais do ser humano e apesar de muito barulhento, ele não foi fedido. Menos mal. 

domingo, 10 de agosto de 2014

Pequeno tour espiritual

A busca pela elevação espiritual talvez seja uma das metas mais almejadas pela humanidade. Há pessoas que já nascem elevadas naturalmente, isto é, a religião já vem de berço de forma hierárquica e sem questionamentos por parte dela. Se essa regra fosse aplicada a mim eu seria um católico apostólico romano. Contudo, eu sou um contestador por natureza. Meus ex-chefes bem sabem dessa minha característica.

Hoje eu não tenho nenhuma religião, apenas acredito em Deus. Não sei mensurar seu poder e influência, conquanto, prefiro apenas acreditar. Até chegar nesta conclusão eu já fiz um pequeno tour espiritual.

Lembro-me que na escola eu tive uma aula religiosa. Não estudei em colégio católico ou coisa parecida, mas tive uma aula religiosa em algum momento da minha infância. Óbvio que não colaborei e sacaneei. A professora pediu para que cada aluno desenhasse como imaginava a aparência de Deus e depois tínhamos que explicar aos colegas de classe. Foi uma chuva de Jesus Cristos. A criançada desenhou homens barbados, brancos e magros. Eu desenhei uma grande mancha roxa escura, mais parecia uma visão de alguém que usou algum alucinógeno. A professora, por sua vez, devia ser pedagoga e não soube lidar comigo.

Pouco depois fui matriculado na catequese. Meus pais são católicos, mas só vão à igreja em casamento, batizado e missa de falecimento. Como todo bom católico, né? Por um ano fui obrigado a ir à igreja todo domingo de manhã fazer aula e depois assistir a “missa dos jovens” que era uma cantoria de mais de duas horas e eu doido para chegar em casa e assistir o finalzinho da Fórmula 1. Fui coroinha diversas vezes e nunca aprendi a fazer aquele sinal da cruz mais profissa, que não é apenas em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo. É um estratagema meio ninja, o padre resmunga um monte de coisas e o pessoal fica se tocando o tronco inteiro, fazendo uma cruz complexa. Enfim, até hoje não sei fazer esse negócio. Tenho problemas com coordenação motora.

Depois que, aleluia, terminei a catequese minha mãe quis me colocar na crisma. Até hoje não sei que caralho é essa tal de crisma. Nunca topei continuar meus estudos litúrgicos. Anos depois eu vi o padre da minha igreja no SPTV. Ele foi denunciado por pedofilia, na casa dele, atrás da igreja, onde era proibido a entrada de qualquer pessoa, ele mantinha, praticamente em cárcere privado, 3 adolescentes, duas delas menores de idade, do interior do Paraná. Minha vizinha de parede era uma beata louca, quando o padre safado foi preso ela fazia bolo para levar na cadeia. Logo entrou um novo padre e a paróquia voltou ao normal, exceto por um fato, eu não frequentava mais a igreja.

Como todo ser humano desesperado, quando precisa de algum milagre, logo recorre a Deus. Eu queria muito passar no vestibular da Federal de São Paulo e fazer o ensino médio lá. Minha tia, outra beata, mas que nunca fez bolo para padre pedófilo, levou-me até a igreja para eu pedir isso a Deus. Não contente, no final da missa, ela me conduziu até o padre, esse tem a maior cara virgem do mundo, poderia muito bem ser confundido com um otaku ou jogador de LOL, e pediu para ele abençoar meus planos escolares. Resumo da ópera, não estudei o suficiente e não passei no vestibular, que era super disputado. No ano seguinte eu tentei novamente e passei. Mas, como tenho orgulho, não quis estudar lá, esnobei mesmo.

Passado um tempo eu fui buscar novos sentidos religiosos. Por algum motivo imaginei que eu poderia me tornar budista. Eu e uma amiga, a Chuchuzona (cata o apelido da minha amiga!), fomos ao Templo Zulai. Eu olhava a monja careca e ficava me pergunta “Pra que isso?”. Na época eu tinha cabelo verde limão florescente que brilhava no escuro, por isso a observação sobre a careca dela. Não gostei muito não, não conseguia me concentrar, aquela coisa de homens de um lado e mulheres do outro não me agradava, a meditação não fluía e no final não podia comer carne. Fui com a Chuchuzona mais algumas vezes, mas pulei fora. Budismo não era minha praia, sou hiperativo demais.

Próxima descoberta foi o espiritismo sob a ótica do Allan Kardec. Sempre tive medo de espíritos, então não fazia sentido ir atrás justamente deles. Quem me levou foi outra tia minha. Eu achei mesmo o prédio meio mal assombrado, até hoje quando passo na porta à noite eu olho para o sótão a procura de alguma luz suspeita. Aquela coisa de tomar passe também é meio estranho, todo mundo de branco na sala, com os braços estendidos e olhos fechados. Quer dizer, exceto eu, óbvio que fico bem alerta querendo saber o que vai acontecer na hora do passe. Para mim é a hora mais apropriada para o espírito aparecer. Nunca vi um. Outro dia fui à Federação Espírita tomar passe, minha amiga disse que seria bom, mas antes do passe rolou uma palestra e não é que uma das mulheres que falou estava incorporada? Não acho que foi teatro, ela parecia a menina pastora, mas falava com coerência. Como sempre tive medo dessas coisas não daria certo eu frequentar centros espiritas, né? Quando eu era menor eu me lembro de ter assistido na Sônia Abraão uma sensitiva que explicou que os espíritos ficam alojados nos batentes das portas, por isso, nunca fiquem parados embaixo de qualquer porta. Ela também ensinou que alguns espíritos querem roubar nossa energia, para evitar isso basta tampar o umbigo com fita isolante ou com o dedo mesmo. Quando eu sinto uma energia estranha a primeira que faço é colocar o dedão em cima do umbigo. Aprendizados da vida!

Eu sei que esoterismo não é exatamente uma religião, mas vou contar uma experiência. Eu já fui a uma feira esotérica que aconteceu há muitos anos em algum shopping de São Paulo, lá escolhi passar com uma esotérica que lia o futuro por meio dos búzios. Falou tanta asneira, não botei fé nela. Mas, disse algo importante, guarde essa informação para mais adiante; eu perguntei se algum dia eu seria rico e ela disse NÃO. Anos mais tarde eu passei com um amigo que lia tarot, ele disse coisas bem legais para mim e eu novamente perguntei se eu seria rico algum dia. Outro NÃO. Em breve retomo o assunto da riqueza.

Eu comecei a fazer uma faculdade, durei apenas algumas semanas e desisti. Eu fui idiota, sempre quis ser jornalista, mas por algum motivo aos 18 anos eu tive a brilhante ideia de prestar HOTelaria. Merda feita e logo desfeita, ainda naquele ano havia a opção de vestibular no segundo semestre. A única faculdade de jornalismo com inscrições abertas para o segundo semestre e que eu consideraria estudar era o Mackenzie. Mas, eu também gostava de Economia, por isso me inscrevi para o IBMEC. Como era fato que eu passaria nos dois vestibulares, eu preferi anteceder minha escolha antes mesmo do vestibular. Uma amiga me sugeriu apelar às cartas. Por algum motivo eu achei uma ideia interessante. Ela comentou que uma amiga dela estava lendo cartas e cobraria pouquinho de mim. A amiga dela em questão tinha 16 anos, havia comprado as cartas do tarot e um livro explicativo há menos de um mês e me cobraria apenas 15 reais. Durante a consulta no quarto dela eu todo aflito perguntei qual faculdade deveria cursar, ela então tirou as cartas e disse “Faça Jornalismo, você terá muito sucesso e será muito feliz! Se você fizer Economia será infeliz!”. Também perguntei se um dia serei rico com o Jornalismo e a resposta foi NÃO.

No dia seguinte eu tinha o vestibular do IBMEC. Uma cartomante adolescente de 16 anos me convenceu a desistir de Economia. Dormi mais tarde e perdi o vestibular. Passei no Mackenzie e no final do primeiro ano de Jornalismo eu tinha certeza absoluta que fiz a escolha errada, Jornalismo não era minha praia!

Outra religião que sempre me bateu curiosidade era a umbanda. Eu tinha um amigo que frequentava terreiro, eu comentei da minha vontade, na verdade não era só vontade, eu tinha uma necessidade. Eu achava que haviam feito uma macumba contra mim. Meu amigo foi super solícito e me convidou para conhecer o terreiro dele e iria me apresentar ao Pai de Santo que poderia descobrir se algum trabalho contra mim foi feito.

Meu amigo pediu que eu o encontrasse na estação Santana do Metrô. Lá fui eu, quando, de repente, para minha surpresa, me aparece ele e uma mulher ambos de batas brancas e um chapéu característico. Porra, meu amigo nunca disse que ele era pai de santo! E o choque? Todo mundo olhando! Eles me levaram até o carro e ao entrar na parte traseira eu quase morri. Havia gaiolas com galinhas pretas, pombas e outros bichos. Todos vivos. Nem te conto para que eram essas aves... Eles ainda pararam em um supermercado para comprar algumas bebidas, frutas e outras coisas. Vejam que agradável, domingo de manhã, eu no Pão de Açúcar com um pai e uma mãe de santo, vestidos a caráter, fazendo compras para a oferenda do dia. E para ajudar um monte de aves nos esperando no estacionamento. Se não morri de vergonha esse dia é porque realmente não é possível morrer desse jeito.

Ao chegar ao terreiro mais um choque. O terreiro era na verdade uma pequena mansão no bairro da Cantareira, região nobre da ZN. Cheguei ao lugar e lá morava uma família, eles me mostraram de fato o terreiro, que era o quintal da casa. Um monte de estátuas horripilantes de madeira, velas coloridas, chão de terra. Agora sim uma expectativa minha sendo concretizada. Na casa vivia o pai de santo mor, fomos apresentados e não rolou uma empatia recíproca. Ele me levou até o consultório que ele lia búzios e me pediu dinheiro para o santo. Eu não sabia que tinha que pagar, não estava com dinheiro, apenas cartão. Pedi emprestado para meu amigo e o pai de santo disse que o dinheiro precisava ser meu. Peguei tudo que tinha na carteira, pouco mais de cinquenta centavos e perguntei se rolava aquele troquinho. Rolou!!! Ele e o santo dele aceitaram. Minha primeira pergunta: “Eu fui macumbado?”.

A resposta foi SIM! Magia negra das bem ruins e poderosas. Quase tive uma síncope. Pior que eu sabia muito bem quem fez. Como já estava lá e estava paga a consulta (65 centavos, mas pago!), eu resolvi perguntar sobre a vida. O pai de santo disse que minha mãe morreria em breve por uma doença fatal e que meu pai deveria largar a segunda família que ele mantinha em sigilo. Minha mãe está vivíssima e meu pai vive em função da única família que ele tem. Perdi a confiança no pai de santo. E claro, fiz a pergunta de sempre “Eu vou ficar rico?”, a resposta também não variou. NÃO! Ele também me disse que poderia reverter a macumba... Fiquei interessadíssimo! Cobraria um preço amigo e eu precisava providenciar algumas oferendas. Ele me passou a lista, era um zoológico inteiro, só faltou colocar um tigre de bengala. Eu decidi não sacrificar animaizinhos e que um dia a macumba perderia a força sozinha.

Eu queria ir embora daquele lugar, mas logo iria começar o ritual deles. Repensei e decidi ver aquilo. O pai de santo mor proibiu a minha entrada no terreiro, disse que a macumba foi forte demais e que eu estava muito carregado. Vocês têm noção que fui expulso do terreiro de macumba? Eu não sabia onde estava, não tinha Google Maps no meu celular, que na época nem existia iPhone. Eu precisava esperar o ritual acabar e meu amigo me levar ao metrô. Fiquei na cozinha com mais duas crianças, netos do mor. Eles também não podiam acompanhar o ritual, mas sabiam o que acontecia lá. Disseram-me que o meu amigo incorporava sempre um orixá X e que se batia, gritava e mudava de voz. Era um pouco assustador e que apareciam “coisas” no terreiro. Óbvio que não acreditei até começar a ouvir urros e berros, batida de tambor e mais um monte de sons assustadores. Eu queria era chorar, bateu um desespero, queria sair correndo para a rua e as duas crianças nem aí. Não me importei com a calma delas e decidi segurar nas mãos delas e dizer que tudo acabaria bem. Foram os 15 minutos mais longos da minha vida. Logo todos voltaram, meu amigo todo imundo e com mão suja de sangue, provavelmente da galinha preta ou da pomba. Fui levado para o metrô? NÃO! Fui convidado para almoçar com eles, rapidamente fizeram uma macarronada e comemos todos... Eu inclusive repeti o prato e olha que o molho era à bolonhesa!

Depois dessa experiência eu coloquei o pé no freio nessas descobertas religiosas. Já me chamaram para rituais xamânicos e Santo Daime. Eu nunca fui, uma por medo e outra porque se no terreiro de macumba rolou tudo aquilo, imagina em um ritual de doutrina espiritualista amazônica? Além disso, até onde sei esse povo toma uns chás alucinógenos, tenho medo de tomar chá de lírio e nunca mais voltar. Para não dizer que não faço nada, de vez em quando tenho vontade de comer hóstia e vou à missa só pra isso. A última vez o padre falou tanta merda no sermão, contou umas barbaridades que qualquer pessoa que estudou história minimamente choraria de tristeza. Minha mãe me impediu de levantar a mão e questionar o padre no meio da missa. 

Uma única certeza meu tour espiritual me forneceu. A certeza que não serei rico um dia. Pelo menos assim eu economizo 2 reais no joguinho da Mega Sena quando acumulada.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Conte-me um segredo seu?

Tudo caminhava na santa paz da normalidade em minha timeline do Facebook. Fotos de viagens incríveis, frases de autoajuda, filhotes de gatinhos, vídeos engraçados e embate político entre petistas e tucanos. Até que sou surpreendido pela seguinte frase escrita em uma imagem jpeg com fundo laranja "Cago no trabalho só para passar o tempo e não ter que olhar para a cara dos colegas por 15 minutos que seja".

Essa confissão quebrou a verossimilhança do propósito do Facebook. E nem preciso dizer que fiquei chocado. Sinceridade demais choca as pessoas. Passados mais uns dias e novamente outra frase de impacto passeia pela minha timeline "Queria dar para todo mundo sem ninguém ficar me julgando. Enquanto isso, vou dando e sendo julgada mesmo". Desta vez o fundo da imagem era rosa. 

Nessa altura do campeonato eu já desconfiava que essas frases não eram do meu amigo do Face, provavelmente de algum Tumblr novo, toda semana um Tumblr sensacional é lançado. Ontem eu descobri a verdadeira origem dessas frases. A fonte dessas confissões encharcadas de absoluta e perturbadora sinceridade é de um novo aplicativo chamado Secret.

O Secret funciona assim: você faz um cadastro, podendo se conectar pelo Facebook, como qualquer outro aplicativo social. A ideia é que você poste segredos anonimamente para que amigos, amigos de amigos e pessoas próximas a você possam ler, curtir e comentar, tudo também de forma anônima. Desta maneira, você pode ler diversos segredos, interagir com eles e ninguém nunca saberá dos autores envolvidos.
Obviamente que as chances de isso dar merda são gigantescas, dar a oportunidade das pessoas falarem o que bem entenderem sem que haja nenhum tipo retaliação, é um parque de diversão para gente maluca. Nos EUA esse aplicativo é bastante usado como ferramenta de cyberbullying, hoje mesmo eu me deparei com uma confissão e dezenas de comentários anônimos a respeito de um blogueiro que eu conheço. Comentários pesadíssimos, ofensivos, cruéis e alguns nojentos.

Contudo, isso foi uma exceção. Como pude conferir, o brasileiro está usando menos como objeto de bullying e mais como fim de putaria. Oitenta por cento (esse é um dado que acabei de inventar, assim como 90% das estatísticas que lemos por aí, que também é outro dado da minha cabeça) das confissões têm o assunto sexo envolvido. Inclusive li um Secret que dizia: “Os EUA transformaram este app num grande estimulador de bullying. O Brasil transformou numa grande putaria. BRASIL MELHOR EM TUDO!”. A mais pura verdade.



Eu consigo ver o outro lado do Secret, não apenas como um espaço para difamação ou putaria, mas como um espaço para se abrir. Muitos e muitos secrets são verdadeiros desabafos, eu li sobre traumas, medos, arrependimentos, vontades e tantas outras coisas que nós levamos ao analista e amigos íntimos. E como é possível interagir, sempre há vários comentários de encorajamento ou de situar a pessoa à realidade.

Estou adorando ler os segredos dos outros, quem nunca se perguntou qual história tem por de trás daquela pessoa desconhecida que está do seu lado no metrô, esperando o semáforo abrir ou na fila do supermercado? Não sei se sou o único anormal em ter esses pensamentos, acredito que todo mundo tem uma boa história a contar, melhor ainda se for um precioso segredo, não?

Fica aqui minha sugestão para baixar o Secret, disponível na App Store e Android.

E como os segredos são anônimos e públicos, vou compartilhar alguns que li hoje. Apenas hoje serei fofoqueiro. Mas antes, conte-me um segredo seu para mim?

“Eu te amo, vc me ama, a gente diz que é só amizade por medo de tentar algo sério e estragar isso. Somos idiotas.”
“Já soltei um peido devastador na balada e chamei todas de porcas”
“Queria gostar de putaria e fetiches mas só gosto de amorzinho”
“Penso muito no futuro e esqueço de viver o agora. Todo dia me arrependo disso.”
 “Tô pegando um cara e uma mina e não sei com qual quero ficar... Como lidar?”
“Colega de trabalho cagava um bonde e fedia a agência inteira. Tive que pedir pro financeiro comprar Bom Ar”
“Gosto de imitar um dinossauro quando estou sozinho em casa.”
 “Morro de vontade de transar com 3 ou 4 homens, ao mesmo tempo, mas me falta coragem”
“Meter chapado de maconha é a melhor coisa do mundo”
“Sou tão gorda que vi um Secret falando de BKT e fiquei com vontade de um Burger King Trio”

“Quando não estou pensando em comida estou pensando em sexo”

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Existe gente de cabelo azul



Você sabe qual a sensação de andar com uma melancia pendurada no pescoço? Eu sei! Não que eu tenha experimentado passear por aí com o segundo maior fruto que eu conheço, mas andei com meu cabelo azul e é tudo a mesma coisa, ao menos no quesito chamar a atenção em público.

Antes de falar dessa sensação eu vou fazer um prefácio da minha história com cabelos coloridos. Perguntam-me milhões de vezes por que eu tinjo meu cabelo com cores incomuns, não tenho uma resposta, sei que não é por questão de estilo, pertencimento de algum grupo ou porque vi em algum lugar e achei bacana, eu apenas gosto desde sempre, just it.

Ainda muito novo eu já tinha essa vontade e só fui concretizá-la pela primeira vez aos 16 anos. Assistindo ao filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, meu filme predileto ever,  descobri que era possível ter cabelos da cor que eu bem entendesse. Clementine, a protagonista do filme, tinha cabelos coloridos, ela aparece com os fios laranjas, vermelhos, azuis e verdes, agindo sempre com naturalidade. Não usava roupas excêntricas, não se jogava em inferninhos, não tinha tatuagens mil, era apenas uma pessoa sensível e com um olhar mais poético. O cabelo colorido era apenas um detalhe e também uma maneira de se expressar de acordo com seu momento de vida da personagem.

Voltando ao meu prefácio pessoal, ao ver o cabelo da Clem eu percebi que era possível para mim também e decidi pintar o meu. Não fiz no dia seguinte, como eu gostaria, porque na época eu estudava em uma escola extremamente rígida e conservadora que proibia os alunos de terem brinco, piercing, usar roupas “inadequadas” e até mesmo alguns tênis eram censurados. Não preciso nem dizer que eu era o terror daquela escola quebrando regras quase que diariamente... Esperei até o último dia de aula e fui direto para a casa da minha amiga Bruna Ficklscherer, que na época era uma menina emo, ouvia rocks depressivos, usava maquiagem pesada, andava com ursinhos de pelúcia e tinha a franja cor de rosa. Ela sabia dos paranauês de descolorir e pintar. Comprei pó descolorante na farmácia (mal sabia eu que esses são para descolorir pelos e não cabelo) e uma tinta nacional com um único tom de azul. Meu cabelo ficou lindo e nunca estive tão realizado com a minha aparência. Choquei minha família e me fizeram prometer nunca mais pintar... Tão logo a tinta azul saiu, já emendei com um laranja, depois roxo, laranja de novo, roxo de novo e verde limão fluorescente que brilhava no escuro, este último era uma tinta importada e realmente muito boa. Recentemente a vontade de tingir o cabelo voltou, em dezembro pintei meu cabelo de branco, este ano de laranja e voltei para o azul claro porque o primeiro azul foi tão rápido que sentia que algo não tinha sido vivido até o fim, foi um azul interrompido.

Sabendo um pouquinho da minha história colorida capilar eu posso voltar ao ponto inicial. Como é andar na rua com cabelo azul. Então, é terrível! Como vocês puderam notar acima, em nenhum momento eu digo que pintei meu cabelo para me mostrar ou ser visto. Eu sou tímido, talvez não demonstre, mas sou tímido e envergonhado. Sempre que mudo de cor de cabelo e preciso encarar a sociedade é um sacrilégio gigantesco para mim. Na maioria das vezes recruto alguém para me acompanhar e andar de mãos dadas comigo, normalmente aperto a mão o máximo de tão tenso que fico.

Pintei meu cabelo sábado à noite, o serviço terminou após uma da manhã. Peguei um táxi e fui direto para uma balada bem descolada, ainda assim minha cabeça virou um imã de olhares. No dia seguinte uma pessoa X comentou no meu Instagram “Eu te vi ontem na balada, só dava você e seu cabelo na pista!”. Ter um cabelo azul, verde, roxo ou qualquer cor diferenciada que seja, não ter permite anonimato ou discrição. Ainda de madrugada eu decidi ir fazer um lanchinho na Bella Paulista. Eram 4 da madrugada, o lugar borbulhava de pessoas, havia fila de espera por mesa. Entrei e fui direto ao toalete. Enquanto atravessei o salão da padaria eu ouvi o zumzumzum das conversas parar por um segundo e retornar em seguida. Meu cabelo não é merecedor de um minuto de silêncio, mas foi capaz de silenciar dezenas de pessoas eufóricas por 1 segundo. Desfaleci de vergonha.

É de dia e na rua que as reações das pessoas são mais impressionantes. Esperando o semáforo abrir uma menininha ao meu lado cutucou a mãe e gritou apontando para mim “Mãe, mãe, existe gente de cabelo azul!”. Como nossa distância era de menos de um metro quem desfaleceu de vergonha desta vez foi a mãe. Andei por metade da Paulista e o imã em cima da minha cabeça não cansava de roubar olhares e para meu desespero eu não estava usando óculos escuros.

Notei uma grande evolução da humanidade entre o cabelo verde e o atual azul. Quando eu tinha cabelo verde limão fluorescente que brilhava no escuro era normal ouvir desconhecidos me chamando de qualquer coisa verde, de papagaio e até impropérios. Já estou azul há 5 dias e até agora nenhuma reação falada. Talvez imaginem que fiz pelo clima de Copa do Mundo e é socialmente aceitável algumas extravagâncias verde, amarelo e azul neste momento. Hoje mesmo vi um carro cujas rodas foram pintadas de verde e amarelo.

O pior de tudo não são os olhares, pois são realmente ossos do ofício e não repreendo ninguém, o pior são os conhecidos que sempre fazem questão de falar “Nossa, você está parecendo isso. Você está parecendo aquilo!”. Sinceramente não estou parecendo porra nenhuma de Smurf, de Blue Man Group, com o Pokémon tal ou o Bigode do Cotonetes. Qual a necessidade de me comparar com algo? Como normalmente são amigos ou conhecidos que falam isso eu apenas sorrio, mas um sorriso nada amigável, para a pessoa se tocar que não está sendo gentil comigo. Então regra número 1 de convivência com alguém de cabelo colorido, não se esforce a compará-los com alguma coisa, não será engraçado, será patético. Por ventura se a pessoa realmente estiver parecendo alguém por conta do cabelo, não se reprima, pode falar, mas vou logo adiantando, dificilmente alguém de cabelo verde estará igual a um papagaio, ok?!

E como eu me sinto de cabelo azul? Lindo, feliz, fascinante, radiante, esplêndido, gorgeous! De vez em quando eu até esqueço a cor do meu cabelo, quando passo na frente do espelho e vejo aquele azulão acima das minhas sobrancelhas eu sorrio para mim mesmo feliz com o resultado. Não existe nada mais gratificante que estar bem consigo mesmo.


E ainda me sinto responsável por combater o tédio, o vazio, o medo e a falta de imaginação das pessoas. Pode parecer responsabilidade demais para um mísero cabelo, mas falo de atitude e cor na vida das pessoas. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

elevação espiritual

Antes de ir trabalhar eu li uma crônica da Martha Medeiros que relatava a raridade que é parar e olhar nos olhos das pessoas, ser gentil com estranhos e dar uma pausa nessa loucura que é a vida na cidade grande.
Terminada a crônica prometi a mim mesmo estar mais atento e não me contaminar com a naturalidade do modo automático que a vida nos propicia. Em outras palavras, ser mais empático com os conhecidos e desconhecidos.

Há poucos minutos eu estava andando pela calçada quando um senhor do outro lado da avenida me grita pedindo para esperar. Imediatamente percebi que era minha grande chance de colocar em prática minhas decisões matutinas. Esperei calmamente o semáforo abrir e ele caminhar até mim "seria uma informação de onde fica tal rua ou seria um pedido de ajuda financeira?".

O senhor chegou até mim, fez questão de me cumprimentar com a mão (havia prometido olhar nos olhos, ser gentil e ouvir, essa coisa de toque físico não estava no script, mas vamos lá...) e falou com certa dificuldade, parecia doente e logo imaginei que era dinheiro que ele precisava. Não entendi todas as palavras do seu pedido, ele estava um pouco confuso, fui pescando "eu + doente + barriga + dor + médico + pé descalço + barriga". Não consegui montar uma frase que fazia sentido usando essas palavras e nessa ordem, então pedi que ele repetisse. Prestei mais atenção e com espanto perguntei "O senhor quer que eu coloque meus pés descalços em sua barriga porque seu médico lhe receitou isso?". Sim, era esse o pedido dele!


Eu procuro incessantemente elevação espiritual, mas isso foi demais para mim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A entrega a um novo amor

Tudo começou com um Starbucks.
Desde o início eu disse que não queria, que estava muito bem sem, que me sentia pleno o suficiente para seguir minha vida sozinho, sem ele.
As visitas ao Starbucks começaram a ficar mais frequentes que eu desejava. Frappuccino com base creme ou chocolate quente desta vez? A troca de olhares mais intensa.  Acho que Frappuccino! Quando dei por mim, o desejo já estava despertado.
Eu repetia para mim mesmo as vantagens de não me entregar. Todos os argumentos eram perfeitamente lógicos e compreensíveis.
Em ocasiões especiais eu me permitia o desfrute. Afinal de contas, eram apenas em ocasiões especiais, não era frequente. De repente comecei a criar ocasiões que nada tinham de especiais, eram desculpas esfarrapadas dadas pelo meu subconsciente.
Há poucas semanas eu chutei o balde, quero mais que se dane tudo isso. Eu vou correr para o abraço e me deliciar com meu novo amor. Uma paixão antiga, quase uma paixão platônica dos tempos que eu ainda era criança. Seu cheiro sempre foi meu predileto, a ponto de fechar os olhos quando estava por perto. Não sei se é um caminho que tem volta, mas estou envolvido pelo café!
Aos 6 anos, na casa da minha avó paterna, eu decidi que não gostava de café. Motivo? Sei lá, apenas decidi. Nunca mais tomei, apesar de ser meu cheiro predileto desde meus primórdios. Já adolescente decidi tomar uma xícara porque insistiram muito. Passei mal. Anos depois em uma reunião na B!Ferraz, uma agência de promoção de São Paulo, eu decidi aceitar uma xícara de café para não fazer desfeita e porque queria parecer confiável, eu precisava fechar negócio com eles. Desta vez foi menos traumático e decidi que daqui em diante apenas tomaria café em xícaras estilosas e sendo em agências cools. Para meu desespero, virou rotina ir para agências cools e conhecer xícaras estilosas... Mas, nunca gostei de café, sempre aturei com muito pesar.

E cá estou, sem visitar agências e volta e outra tomando café, e o pior, tomando café por prazer, por iniciativa própria e sem o objetivo de fechar um negócio. Eu sei que café amarela os dentes, eu sei que também pode te deixar dependente psicologicamente e ainda assim nutro essa vontade. Ontem mesmo eu pensei “Tenho café em casa, coador e garrafa térmica, por que não procurar no Google como fazer café?”.  A coerência logo voltou e abortei a ideia. Café agora só de vez em quando e pode até ser em copo plástico, como foi agora. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A fórmula mágica do amor

Relacionamentos é sempre uma pauta de conteúdo, experiências e opiniões infinitas. Deve ser o assunto com mais frases prontas que fazem algum sentido. "Quem muito escolhe, acaba sendo escolhido", "Quem eu gosto não gosta de mim, quem gosta de mim eu não gosto", "Nunca transe no primeiro encontro, tem que se valorizar para ser valorizado", "Não procure, seja encontrado". Uma infinidade de fórmulas prontas para serem colocadas em prática e conquistar um desejado relacionamento.

Há pouco mais de um ano eu estava disposto a tentar todas essas, na verdade eu já usei muitas das famosas fórmulas em algum momento da minha vida. Eu queria namorar, por isso em todas as minhas oportunidades eu deixava minhas intenções bem claras, mesmo batendo de frente com aquela fórmula bem popular e a mais cuzona de todas "Finja não estar interessado, seja difícil". Vendia meu peixe, mostrando que eu era digno para ostentar o título de namorado, fazia atividades interessantes para ter assuntos surpreendentes, até aprendi a fazer arroz de forno, um prato que requer muito mais dedicação e talento do que preparar o manjado “pasta ao molho X”, que nada mais é macarrão com molho pronto.
O mais engraçado que quando eu demonstrava meus objetivos não conseguia evoluir as minhas paqueras. Chegou um momento que pensei, quer saber, vou trepar com todo mundo e foda-se, se possível no primeiro encontro. Repentinamente eu me vi em um relacionamento, não tinha título, não queria títulos ainda, como foi tudo sem planejamento, não sabia como chamar aquilo. Dois meses depois de passar dormir juntos pelo menos 3x por semana, almoçar todo domingo com meus sogros, eu pensei "estou namorando!", oficializei no dia dos namorados e the end parte 1 da história.

Hoje estou solteiro faz poucos meses e não quero envolvimento sentimental. Primeiro porque terminei um namoro recentemente e não acredito em amor após término recente e outra porque assim como Hazel Grace, personagem célebre do John Green, sinto-me uma bomba relógio prestes a explodir. Envolvimento sentimental seria apenas uma burrice. Eu estou solteiro, mas graças a Deus está chovendo muito na minha horta, o que me possibilita escolher os melhores frutos para a minha dieta (beijinho no ombro para vocês!!). Invariavelmente quando conheço alguém falo meu discurso "não busco relacionamento, quero apenas colecionar bons momentos", um eufemismo que cai muito bem nesta ocasião. Deixo claro, que a ideia não é prolongar, telefonas no dia seguinte não são aconselháveis e ainda assim tenho uma pequena lista de nomes interessados em algo mais concreto e algumas declarações ouvidas que eu daria tudo para ter ouvido ano passado quando procurava por um amor.


Qual é o problema da humanidade? Digo que quero amar e que sei fazer arroz de forno e não tem uma alma querendo dormir de conchinha comigo e me dar apelidos carinhosos e ridículos. Digo que vou explodir, que não quero nada e, ainda assim, preciso ser meio babaca distribuindo gelo ou não responder Whatsapp.
Realmente relacionamentos são complexos. Fórmulas prontas não existem.
4, 3, 2,1. BUM!

domingo, 27 de abril de 2014

O voo da borboletinha



- Senhorita, com licença, posso te tocar?
- Humm... Melhor não, se você me tocar, todo mundo também vai querer.
- E tirar foto? 
- Claro! 
- Você rebola para mim? 
- Tá!

E lá foi a borboletinha voar, quer dizer, rebolar para mim.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Deus existe

Enquanto eu chorava cortando cebolas para o almoço de domingo, minha tia septuagenária e carola de carteirinha, contava-me como a missa naquela manhã foi bonita. Eram lágrimas e silêncio da minha parte, entusiasmo e brilho nos olhos da parte dela. Em algum momento daquele relato clérigo ela me diz “Por isso que você tem que ser uma pessoa boa. Deus ajuda quem é bom!”.

Sem deixar de cortar e olhar minhas cebolas eu disse com a maior naturalidade do mundo que Deus não existia. Ela deu um grito assustado e fez uma cara de total reprovação. Se eu tivesse dado um tapa em suas fuças ou cuspido em sua cara certamente ela não teria ficado tão horrorizada quanto com o que acabara de ouvir. Imediatamente ela protestou e disse que Deus existia sim e aquilo que eu estava falando era um pecado gravíssimo! Parei de cortar a cebola, olhei para a cara dela com um pouco de desdém e disse pausadamente “De-us não e-xis-te!”.

Foi um auê. Heresia para minha tia é considerado o pior defeito que um ser humano pode ter. Ela foi provar para mim que Deus existia. Disse que quando minha avó estava próxima do falecimento ela viu Deus no hospital. Eu respondi: “Ela estava doente fazia meses, sob efeito de remédios fortes, ela não viu Deus, foi apenas uma alucinação. Igual a Xuxa, ela viu duendes, mas ela estava muito louca! Igual um amigo meu que quando toma uns chás mineiros ele jura que está tocando violão com John Lennon, mas o Lennon não existe mais!”. Minha tia afrontadíssima não se deu por convencionada e disse que iria me contar uma história que comprovaria que Deus existe.

Eis a história: Deus de vez em quando sai pela rua para testar as pessoas. Uma vez, há muito tempo, quando era velhinho, ele estava vestido de mendigo e parou em uma casa para pedir comida. A senhora que morava lá tinha acabado de matar uma galinha, quando viu alguém se aproximando colocou uma bacia por cima e atendeu a porta. Deus então perguntou se ela não tinha uma galinha para dar de comer, ela prontamente disse que não, só tinha uma galanga. Deus então disse: “Então galanga será!” Nesse momento a galinha se transformou em uma galanga e começou a andar.

Nesse momento eu já tinha parado de cortar o tomate e perguntei que raio de coisa é essa galanga. Ela disse que é galanga é galanga, oras bolas. Insisti mais um pouco e recebi a resposta “galanga é tipo uma tartaruga”. Nesse momento o mundo se descortinou diante de mim, agora tudo fazia sentido. A galinha estava escondida embaixo de uma bacia, Deus viu a cena e a mulher mesquinha disse que não, aquilo era uma galanga/tartaruga/jabuti, então ele fez a “vontade” da mulher e transformou a galinha em um quelônio! A mulher ficou sem o alimento e aprendeu a não ser mesquinha e a minha tia ganhou uma história para provar as pessoas que Deus existe!

Depois de um surto de gargalhada, no qual minha tia não achou muita graça, eu admiti que fatos são fatos e voltei a acreditar em Deus. Antes eu confidenciei que quem me convenceu que Deus não existe foi meu irmão, que estava na sala, e se eu fosse ela iria contar a história da galanga para ele. E lá foi a tia Cidinha inspecionar se meu irmão acreditava ou não em Deus...

Para adicionar, segundo o dicionário, galanga é uma erva chinesa. Como essa história provavelmente veio da Itália, é possível que houve algum erro de tradução para o português ou é algum neologismo do parte da minha tia ou de quem contou para ela.


Por ora, eu acredito em Deus, não sou cristão e na sexta-feira da Paixão irei comer peixe, afinal de contas, cresci em uma família católica e essa minha tia me levava à missa.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Meu dia normal

Às 7 da manhã toca o despertador do meu iPhone, eu levanto da cama e caminho até a escrivaninha para desligá-lo. Dirijo-me ao banheiro relembrando todos meus compromissos do dia e decido cancelá-los um a um sem diferenciação. Estou tão cansado que quero apenas chegar o mais rápido possível de novo em casa e dormir. Faço xixi, lavo o rosto e volto à escrivaninha do meu quarto para verificar as mensagens recebidas na tela inicial do celular. Caso tenha recebido de quem eu amo eu respondo de imediato, se recebi de pessoas X amaldiçoou mentalmente. Desço as escadas com cautela para literalmente não cair de sono, vou para a cozinha, abro em silêncio a porta para o Malmö entrar pulando de alegria, preparo meu café da manhã, se o dia está quente esquento o leite com Ovomaltine, se o dia está frio, tomo leite gelado com Ovomaltine. Coloco água no copo e deixo na pia. Volto para meu quarto, remarco em pensamento todos os meus compromissos recém-cancelados, pego qualquer roupa no guarda-roupa, ainda com sono não consigo calcular qual seria a melhor combinação, preparo minha mochila, se é dia de academia escolho o mochilão, coloco tênis, meias sports, short e camiseta dry-fit. Visto minha roupa do dia, escolho o perfume do dia, escovo os dentes, se estou com saco eu penteio o cabelo, coloco os sapatos, procuro minhas chaves, coloco ração e água para o Malmö e saio. Ainda na rua de casa lembro que esqueci o guarda-chuva ou não peguei blusa de frio, torço que não chova ou esfrie; olho para os pés para me certificar que estou usando sapatos do mesmo par. Pego um ônibus em direção ao metrô, desço no metrô, a estação está lotada, espero alguns trens e em nenhum é possível viajar com dignidade, entro no último vagão de algum trem que eu caibo, abro o Twitter, leio as pessoas reclamando de acordar e manchetes do Estadão e do BlueBus, coloco o celular no bolso, abaixo a cabeça, fecho os olhos e fico repetindo mentalmente que não estou ali ou perguntando se eu não deveria mesmo não estar ali. Desço na estação Anhangabaú, sinto o frescor do oxigênio e não do gás carbônico alheio bater no meu rosto, tenho minha primeira felicidade do dia, vou até o terminal Bandeira, escolho o ônibus mais vazio que passa pela Av. Cidade Jardim, sento no banco alto, abro novamente o Twitter, posto algo que pensei no trajeto até lá, tentando não ser mal humorado porque quero fazer do mundo um lugar melhor, mando mensagem para a Tábata, Milena ou Murilão, abro um livro e começo a ler ou então aproveito a viagem para tuitar mais um pouco ou olhar os prédios e a interessante Avenida 9 de julho. Desço na mesma avenida depois do ponto da Rua Turquia, procuro meu crachá, chego à empresa, torço apenas que eu tenha chegado antes da minha chefe - faz parte da minha pessoa chegar ao escritório antes do chefe, não importa se estou adiantado ou atrasado, não importa quem seja meu chefe -, sou uma das primeiras pessoas a chegar de todo escritório, dou bom dia para a Maria – minha primeira frase do dia -, bato o ponto às 9 horas e penso "até daqui 10 horas", deixo a mochila na minha mesa, vou ao toalete, lavo as mãos com bastante sabonete, volto para a mesa, abro meu notebook, olho os remetentes dos e-mails e começo a trabalhar. 10h30 como algo meu ou peço para a Tabata, meio-dia vou almoçar sozinho porque gosto de almoçar sozinho, é meu momento, tipo tomar banho, mas sem dor na consciência porque estou jogando água pelo ralo. Ponho no prato cenoura ralada, beterraba, um negocinho que parece raiz e tem em salada japonesa, arroz integral, feijão e frango grelhado. Não aceito bebida porque engorda, mas pego gelatina porque deixa a bunda dura. Volto para o escritório e pelos 15 próximos minutos eu não trabalho, apenas quero ler fofoca de subcelebridade e notícias de Política ou Economia Internacional. Escovo os dentes e encaro a segunda parte da jornada de trabalho. 16h30 tenho fome de novo, como algo meu, peço para a Tabata ou desço na lojinha e compro algum alimético sem adição de açúcar. Olho o Twitter, compartilho algum link e tento descobrir qual é o assunto do dia. Passam-se as 10 horas, bato o ponto e vou para a academia como quem vai para a forca, caminho vagarosamente pelas ruas escuras do Itaim, sem pressa de chegar ao meu destino, olho para Le Vin Bistro e estou certo que um dia preciso jantar lá, talvez no meu próximo date, chego na academia, vou para o vestiário, escolho um armário grande, desço para a esteira, corro 36 minutos alternando a velocidade, 2 minutos velocidade 13, 2 minutos velocidade 5,5, assim por 18 vezes. Desço para a musculação e me pergunto se realmente preciso daquilo e se meu corpo não é suficientemente atraente, já que não faço musculação por saúde, mas apenas por autoestima e para continuar obtendo razoável sucesso na aprovação alheia. Termino meus exercícios, encho minha shakeira de água e chacoalho com o whey protein, atravesso a rua, pego um ônibus para Pinheiros, bebo aquela bebida horrível, entro no metrô Faria Lima, penso na minha vida, me pergunto se sou feliz, se estou fazendo a coisa certa, se deveria ousar mais, se não deveria viajar, morar fora por um tempo, concluo que a vida é curta demais para viver em São Paulo. Concluo, também, que eu era mais feliz quando namorava e como meu último relacionamento foi o melhor de todos os relacionamentos e só me vejo construindo uma família ou tendo uma vida a dois com essa mesma pessoa protagonista na minha existência. Repenso e decido abortar a ideia de tentar dar um novo início ao meu fim, há histórias que se convergem para lados distintos, estou quase chegando em casa, procuro a chave de casa, que sempre está no fundo da mochila, meu cachorro escuta eu tocar no portão e late desesperadamente de alegria, enquanto abro a porta do corredor ele late, chora, pula e gira do outro lado com a maior alegria do universo, ao contrário de manhã eu interajo com ele, chamando “Cadê o meu neneeeeeeeê? Maaaaaalmö? Ô Maaaaaaaalmö!”, abro a porta, ele pula em mim, chora, lambe minha mão, entra comigo em casa. Ponho a mochila no sofá, dou mais água e comida para ele, lavo minha mão com sabonete antibacteriano (não pela lambida, mas pelos balaústres), subo para meu quarto, fico apenas de Crocs laranja e short, preparo meu jantar e brinco com o Malmö, janto, levo meu cachorro para passear no quarteirão de casa, volto e tomo banho. Escolho se vou lavar meu rosto com espuma de limpeza ou sabonete em barra para pele oleosa, escolho quais dos shampoos usarei naquela noite, lembro que preciso lavar a pia porque tem pasta de dente seca no mármore, escovo meus dentes, fecho a casa e fico no meu quarto. Abro Instagram distribuo meus likes, abro Facebook, mando mensagens, agendo para despertar às 7hrs. Já são meia-noite, preciso dormir 7 horas para estar pronto para o dia seguinte. Rezo por mim, pela minha avó falecida, por quem eu quiser e no fim digo Amém, lembro que não cristão, apesar de ter criação católica, peço desculpas pela gafe e termino sem Amém. Decido com qual travesseiro vou dormir e com qual vou ficar abraçado e em minutos ou segundos já estou sonhando com alguma bizarrice até às 7 da manhã do mesmo dia. 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O dia que tive Hepatite B por 80 longos minutos

Anualmente faço um check up geral, em 2013 fiz no próprio ambulatório da Natura e estava tudo ótimo comigo. Este ano usei minha velha tática de ligar para todos os consultórios dos arredores e marcar o melhor horário para mim. Marquei com tal de Dr. Roberto em frente ao Clube Pinheiros.

Ele me solicitou todos os exames possíveis e pedi também meu tipo sanguíneo, eu sempre peço e nunca memorizo. Fui ao HCor Diagnósticos na Cidade Jardim e semana passada, após o almoço, voltei para buscar. Eu sempre que faço esses exames fico no cagaço, não acho que eu esteja devendo, mas é um medo, assim como tenho medo de cobra, tenho medo de resultado de exame. Todas as vezes que faço meus exames até para a igreja eu vou rezar, não que eu seja católico, mas eu vou, porque vai que né... Desta vez não rezei, não fui à igreja, não lembrei do exame, tal era a minha total certeza que estava vendendo saúde. 

Eu obviamente não preciso de médicos para ler meus exames e dizer que estou saudável. Por isso eu nem marquei retorno com o Dr. Roberto. Abri meus exames no próprio HCor. Eram vários envelopes, o primeiro tudo ok, o segundo eu abro e a palavra POSITIVO pula em meus olhos. Meu coração deu uma pontada e só pensei “Ai meu Deus! É HIV?”. Bato os olhos novamente e leio O POSITIVO! Ufa, era apenas meu tipo sanguíneo (nunca mais o esquecerei depois desse susto!). Abro mais um envelope e o colesterol LDL, HDL, triglicérides e todos aqueles outros estavam muito bons. Abro mais um envelope (haja envelope, porra! Haja emoção, caralho!) vejo HIV não reagente, Hepatite C não reagente e Hepatite B deu reagente. Olhei de novo e não era erro de leitura, eu li aquilo mesmo. A pontada no coração voltou, dessa vez mais forte e acompanhada de suor e falta de forças nas pernas. Eu me arrastei até um balcão e pedi pelo amor de Deus por um médico que pudesse ler aquele exame para mim. Agora sim eu precisava de médicos instuídos para ler exames. Não havia um puto para me atender, simplesmente pediram que eu procurasse meu médico. Eu lá sabia o telefone do meu médico? Só lembrava que ficava na frente do Clube Pinheiros. Tinha uma amiga do trabalho me esperando no hall, eu estava pálido quando a encontrei, ela imediatamente perguntou o que aconteceu, pedi apenas que me tirasse dali e me levasse ao meu médico porque eu estava com Hepatite B. Ela tentou me acalmar “Você tem certeza que leu certo o exame? Relaxa não é o fim do mundo, todo mundo tem isso, talvez até eu tenha!”. Essa consolação não me ajudou em nada, há um ano a médica do ambulatório da Natura disse que meus exames estavam impressionantemente bons, como contraí essa doença? Namorei 2013 inteiro, ato sexual não poderia ser. 

Procurei o endereço do “meu” médico e simplesmente não achei, não conseguia digitar nada, minhas mãos tremiam. Decidi ir até o prédio mesmo assim e lá perguntaria na portaria. Estava chovendo forte e lá fui eu com um guarda-chuva pequeno enfrentar a tempestade dos céus e da minha vida. Chegando no consultório eu o encontrei trancado. Não acreditei, sentei numa cadeira e googlei “HEPATITE B TEM CURA?”. A resposta do primeiro resultado era não! Também li que se contrai em contato com sangue, sêmen, secreção vaginal ou saliva. Levando em consideração que eu estava em um relacionamento fechado e tenho pavor de sangue (meu ou alheio), concluí que eu contraí tomando caipirinha no canudinho de alguém!!! 

Saindo do “meu” médico pensei o que fazer da vida, precisava voltar para o escritório pegar minhas coisas. Eu já estava todo molhado, amuado e deprimido. Já até sentia meu fígado doer e todas as consequências que aquela doença causaria na minha vida e das pessoas que convivem comigo. Nisso 3 garotos, de uns 17 anos, atravessam a rua e passam correndo pelo meu lado. Aquilo me fez chorar, eu me lembrei de quando eu tinha 17 anos e tinha tanta vida e saúde. Peguei minhas coisas no escritório e decidi que precisava ir para um hospital, precisava falar com um médico. Enquanto isso liguei para uma amiga que trabalha com o Drauzio Varella, talvez ela tivesse informações privilegiadas ou palavras de sabedoria. Informações privilegiadas não encontrei de imediato, mas foi muito bom ter o apoio dela. 

Cheguei ao hospital 9 de Julho, fui direto para o pronto-socorro, sabendo que se eu chegasse com exames para serem lindos era possível não conseguir atendimento imediato, por isso eu já cheguei lá morrendo. Minha cara devia ser de moribundo, até mancando eu estava. Enquanto não era atendido pelo médico eu li e reli meus exames, queria encontrar brechas. Uma delas era: como eu estava doente se meu número de leucócitos estava estável? Outra brecha era que havia dois exames de Hepatite B, um total e outro com alguma expressão que não lembro agora. O primeiro deu NÃO REAGENTE e o segundo REAGENTE. Não queria me apegar em esperanças, eu sabia que estava doente. Dentre todas as pessoas esperando atendimento no pronto-socorro, visivelmente eu estava com a pior aparência. Tipo caso de internação. Logo fui atendido e o doutor “O que você está sentindo?”. Respondi que na verdade nada, mas tinha aberto meus exames e acabara de descobrir que tinha contraído uma Hepatite B. Peguei o exame, apontei e comecei a chorar. Ele leu com atenção e me perguntou “Você se vacinou contra a Hepatite B?”, respondi que não lembrava, lembro que me vacinei contra a Febre Amarela quando eu iria ao Amazonas. O médico com desprezo disse que meu exame dizia que eu fui vacinado contra a Hepatite B e estava imune à doença. Meu choro parou imediatamente, aquela foi a melhor notícia que ouvi na vida! Algo surreal aconteceu naquele consultório, eu não me contive e comecei a sambar na frente do médico mal encarado. Sambei, sambei, sambei. Tinha que comemorar. Fui embora com cara de quem ganha na Mega Sena, sorrindo e sambando. Notei olhares julgadores da sala de espera, mas nem dei bola, não é todo dia que se contraí uma Hepatite B, fica terrivelmente doente por 80 minutos e depois se cura desta maneira milagrosa. 

Minha alegria foi tanta que era 5 da tarde e invés de ir para casa ou maltratar meu fígado super saudável com uma cerveja, eu voltei para o trabalho, afinal de contas, estava mais saudável do que aqueles três moleques de 17 anos da Faria Lima. 

Depois desse susto minha vida ficou mais simples. Eu estava com um grande problema que não estava me deixando dormir direito há dias. Eu simplesmente desencanei e dois dias depois solucionei meu problemão. Estou com aquela sensação que nada é tão importante como a minha saúde. 

Quem já ouviu essa história da minha boca deu risada da minha cara, mas o desespero e o susto que passei não desejo a ninguém! Por isso, cuidem-se! A Tainah Medeiros, minha amiga que trabalha com o Drauzio, coincidentemente no dia seguinte foi cobrir um congresso sobre Hepatite. 

Ela publicou a matéria e fiquei impressionado sobre a atual situação dessa doença no mundo e no Brasil, além de alguns mitos e verdades muito bem explicados em um infográfico. Acho de utilidade pública ler esta matéria, se tiver 5 minutinhos, só clicar no link aqui.

sábado, 29 de março de 2014

Minha experiência no Erótika Fair

Esta semana começou a Erótika Fair em SP e baseada em minha experiência do ano passado eu vou te convencer a ir ou não nesta edição.

Para quem não sabe, ano passado eu e uma amiga abrimos um sex shop online, contudo, tivemos que dar um tempo por mim e por ela. No meu caso eu fui indiretamente ameaçado pela minha ex-chefe de ser demitido caso eu tivesse um projeto paralelo ao meu trabalho e a minha amiga estava mudando o foco da carreira dela de TI para Comercial. Como desde o início tínhamos combinado em privilegiar nossas carreiras ao sex shop, decidimos parar momentaneamente, mesmo tendo recebido propostas de investidores (uaaauuu) com valores BEM razoáveis! Exatamente por causa do sex shop a gente decidiu ir à feira. Por ser uma feira prioritariamente de business, nosso foco era conhecer novos produtos, negócios e trocar cartões. Querem uma dica para ganhar dinheiro? Invista no mercado erótico! Quer outra dica? Seja um importador e distribuidor de brinquedos eróticos, é um oceano quase azul! ;)

Como eu já esperava e ao contrário do que as matérias da Rede TV adoram mostrar, a Erótika Fair não tem gente pelada andando pelos corredores e nem suruba. É tipo a Bienal do Livro, mas invés de livros há pintos de borracha e bolinhas explosivas lubrificantes.

Eu e minha sócia conhecemos diversas pessoas e empresas nesse dia, comemos amendoins oferecidos pelos expositores, trocamos cartões e foi uma feira bem interessante sob o ponto de vista de negócio. Entretanto, a feira tem duas partes. Uma para profissionais da área ou consumidores de produtos eróticos e outro que é para público geral/diversificado/liberal/sexualizado com diversas opções de entretenimento, se assim posso falar. Inclusive a feira é separada! De um lado negócios e do outro entretenimento.

Concluído nosso objetivo inicial, propus a minha sócia conhecer a outra parte. Não estávamos na pegada de diversão. Eu há poucas semanas tinha terminado um namoro super conturbado por Whatsapp. Terminar um namoro por Whatsapp é tipo o fundo do poço e não poderia haver fim mais apropriado para aquela minha relação horrorosa. Minha amiga se encontrava ainda pior, ela estava tecnicamente viúva há uma semana. O ex-namorado dela havia morrido uma semana antes, no aniversário dela, dois dias depois que ela terminou a relação. Ele faleceu por uma doença grave que descobriu em um dia e morreu no outro, o término nada influenciou na morte. Para piorar ela só soube do falecimento do mesmo depois do enterro dele e para piorar ainda mais, ela desconfiava que estivesse grávida dele, porque não havia menstruado até então e para piorar (sim, tinha como!), a irmã dele, uma lésbica mais masculina que o José Mayer, que ainda por cima era cafetina, agenciava garotas de programa de luxo e tem como clientes diversas pessoas e casais famosos que se eu mencionasse aqui ninguém nunca acreditaria, mas são clientes dela, enfim, a ex-cunhada já tinha até se oferecido para ser pai da criança! Resumindo, a gente não estava em clima de entretenimento, mesmo assim fomos! A gente já estava lá mesmo...

Ao chegar encontramos um estúdio de tatuagem e para minha surpresa havia interessados se tatuando. Que tipo de gente vai numa feira erótica e volta com tatuagem nova para casa? Eu me pergunto isso até hoje! Depois uma cabine que tirava fotos na hora. Como era de graça, tiramos algumas fotos. Eu com chifres de viking (ou corno), ela com tetas de plástico gigantescas por fora da roupa e nós algemados um ao outro. Fizemos algumas caras safadinhas e ganhamos nossas fotos. Tão logo saímos fomos convidados, quase intimados pelo staff, a entrar no teatro do local e assistir aos shows.

Vimos um show de pole dance com alguma campeã brasileira, esse show mais parecia espetáculo circense e não ligado ao erotismo, de qualquer maneira eu gostei. Logo em seguida entrou no palco a Silvetty Montilla, uma drag queen famosa e muito engraçada que vire e mexe está na tevê. Em sua apresentação ela selecionou pessoas aleatórias da plateia e convidou para subirem ao palco e participarem de uma competição concorrendo a prêmios. Não pessoal, eu não subi, inclusive até me encolhi com medo de ser escolhido por ela. A Silvetty convidava, se a pessoa não aceitava, ela insistia com simpatia, se ainda assim não aceitava ela descia do palco para intimar com certa firmeza, bom se nesse caso a pessoa  ainda não aceitava, a Silvetty, que originalmente de fábrica é um negão de quase 1,90m, engrossa a voz e grita "você não vai subir nesse caralho, porra?". Depois dessa abordagem não houve um sequer que não subiu oprimido e amedrontado. Eu não me ofereci para subir por vários motivos: sou tímido, havia mais de 100 pessoas naquele teatro e conhecendo show da Silvetty (já fui a stand up comedy dela e show em festas) no mínimo eu pagaria o mico de dançar É o Tchan para mais de 100 pessoas sóbrias. Se você acha que isso pode ser a pior coisa que poderia acontecer em um palco, acredite, qualquer pessoa optaria dançar a discografia completa do Tchan invés de protagonizar o que aconteceu naquele palco e aqui vou relatar.

Como disse, a Silvetty selecionou pessoas aleatórias e formou casais no palco. A brincadeira era se passar por um casal verossímil e sedutor. Imagine a situação, você está no palco, forma um casal com um desconhecido e precisa dançar sensualmente para ele (e mais a plateia), apalpá-lo e tudo mais o que a drag queen pedir. Foi isso que aconteceu. Metade dos casais, obviamente, não tiveram a menor química e por isso foram eliminados. Porém, dois casais sobraram e eles queriam ganhar o tal prêmio a qualquer custo e toparam fazer de um tudo no palco, por exemplo, os homens ficaram apenas de cueca e tênis e as mulheres fizeram twerking nos desconhecidos. O ponto alto foi no “vale tudo”, uma performance sedutora. Resumindo uma das mulheres jogou o cara no chão e começou a cavalgar nele de cueca! (não houve contato sexual!!!). Perplexo, eu só pensava “essas pessoas não têm família? Não tem juízo?”. Eu não sou moralista, pelo contrário, sou defensor pela livre sexualidade do ser humano. Para mim pode fazer o quiser, desde que o casal, trio ou grupo envolvido deseje, mas, por favor, façam em quatro paredes, não precisa ser no palco com centenas de pessoas assistindo, filmando e fotografando. Sei lá, apenas minha opinião.

Enfim, esse casal ganhou! A moça desinibida estava crente que iria ganhar um anel da Silvetty que valia mais do que um apartamento em Pirituba. Mas, o prêmio final era ingressos para o Clube das Mulheres. Para finalizar o show deles, o cara que estava no palco namorava e a namorada vendo tudo da plateia. Quando a Silvetty descobriu isso tratou de chamar a namorada para o palco a fim de criar uma briga, um confronto físico, um barraco para lavar a alma. A namorada foi ao palco e para minha surpresa achou o show excitante e acabou beijando profundamente de língua a moça que cavalgou no namorado minutos antes. E o namorado o que fez? Sacou o celular do bolso e filmou o beijo das duas mulheres. Aos interessados, terá show da Silvetty Montilla no Erotika Fair todos os dias às 19h30.

Se você acha que tudo que relatei é pesado demais, não continue, daqui para frente a coisa só piora! Terminando o espetáculo da Silvetty começou o show do Clube das Mulheres. Eu já vi na tv diversas vezes, como já estava lá e era de graça, continuei na minha cadeira e presenciei uma das coisas mais horrorosas que vi na vida. O Clube das Mulheres é composto por senhores com a maior autoestima entre os seres humanos da Terra. Na década de 80, muito provavelmente eles eram homens malhados e bonitões, em 2013 eles ainda acreditam que o sejam! Imagine senhores na faixa dos 50 anos, ex-malhados e atualmente inchados, caracterizados de marinheiro, índio, cowboy e outros “fetiches”, rebolando da forma mais heterossexual possível e falando barbaridades ao microfone? É isso o show, a sensação é de tédio e vergonha alheia. Fomos embora daquele teatro durante o show do bombeiro que queria apagar o fogo da mulherada e ao sairmos nos deparamos com algumas filas!

Se há fila, logo pensei, estão distribuindo alguma coisa! Oba, eu quero. Primeiro analisei as 3 filas. A primeira e maior só havia homens e todos desacompanhados, exceto um que estava com uma mulher, a outra fila era composta apenas por casais e também era grande e a terceira fila, era uma mistura de tudo e era pequena. Apostei na segunda fila e ficamos eu e a minha sócia esperando o presente que ganharíamos. Logo descobri que na verdade ninguém ganhava presente algum.

Não se sabia o que havia depois da fila, porque em todas tinham uma porta escondendo o que acontecia por dentro da estrutura criada. A primeira fileira era oferecida por uma produtora pornô. Não entrei para saber o que essa produtora pornô oferecia, pelos comentários entendi que dentro daquela estrutura eram exibidos filmes pornôs do Canal Sexy Hot. A minha fila era mais demorada e tinha uma hostess na porta toda tatuada e com piercings. Entravam duas pessoas por vez, a grande maioria eram casais. As paredes desse local era uma espécie de plástico usado como divisória em alguns escritórios simples. O casal entrava e da fila se ouvia uma gritaria de desespero, socos e batidas nessa parede de plástico. Era um cenário que gerava ansiedade nas pessoas da fila. Minha mente brilhante logo pensou “deve ser tipo um Castelo dos Horrores do Playcenter, vai ter ator vestido de monstro, só isso explica a gritaria.”. Quando nos tornamos o segundo casal da fila a hostess perguntou para o casal da frente “Com emoção ou sem emoção?”. Eles pediram com emoção e foram jogados para o breu que era o outro lado da porta! A minha sócia logo falou para mim “Lê, por favor, sem emoção!”. Pouco depois a hostess “Com emoção ou sem emoção?”. Eu estava na chuva, eu queria mesmo era ficar ensopado! “Com emoção!” A minha amiga arregalou os olhos e antes que pudesse protestar, ela foi empurrada dentro da sala escura e quase caiu de boca no chão. Não havia monstros! Havia 5 mulheres cavalonas, tipo Panicat, todas só de calcinha e sutiã. A sala era escura, mas perfeitamente visível, não havia nada além de uma cadeira no centro e uma meia luz em cima dela. Ao entrarmos elas começaram a gritar, bater nas paredes e dizer que iam foder a gente! Eu fui arrastado para a cadeira e me sentaram nela, minha sócia também foi trazida e o estupro começou! Uma mulher colocou os peitos dela na minha orelha e passou as mãos por dentro da minha camisa, outra colocou a bunda literalmente na minha cara e ficou esfregando em mim gritando e gemendo como uma americana em filme pornô, uma terceira sentou no meu colo e começou a pular! As outras duas mulheres estavam cuidando da minha amiga, uma molestando os peitos dela e tentando tirar o vestido e a outra com a mão embaixo das pernas subindo para vocês bem sabem onde. Tudo isso aconteceu em menos de 8 segundos! Eu e minha sócia estávamos simplesmente paralisados! Foi quando a consciência voltou e começamos a interagir. A bunda que estava sendo esfregada no meu nariz recebeu um tapa meu! Algo em mim disse que não teria problema se eu desse um tapinha. Ela gritou e pediu mais, e recebeu mais, bom, enfim, essa putaria louca durou uns 30 segundos. Eu realmente me diverti, a minha amiga menos, porque ela tinha duas mãos e brigava com quatro mãos para não chegarem até a calcinha dela... Acabado nosso tempo saímos de lá com marcas de batom, eu no pescoço e ela nos peitos, eu todo vermelho e com o cinto quase desfivelado, ela trazendo o vestido para baixo novamente e com o cabelo tudo para cima. As meninas gritavam pedindo que a gente voltasse para visita-las mais tarde...

Acho que nossa aparência estava realmente engraçada, saímos pela mesma porta que entramos e o povo tudo apontado para nós. Nenhum outro casal tinha saído tão diferente de como entrou. Digamos que foi com MUITA emoção. Antes mesmo que a gente se recompusesse, entramos na terceira fila, eu tinha absoluta certeza que nada poderia ser tão intenso e emocionante como o que acabamos de viver. Engano meu... A fila era menor e logo chegou nossa vez. Mesmo cenário, porta escondendo um local escuro, uma cadeira no centro, meia luz no teto e 5 homens de sunga e cueca de couro, super marombados. O menorzinho ali deveria ter 1,80m e bem forte de academia. Mesma cena, eu arrastado e jogado na cadeira, dessa vez com razoável violência, e não havia peitos ou bunda na minha cara. Um cara sadomasoquista me pegou pelos cabelos, enquanto o outro me segurava, e gritava “Se deu mal alemão, vamu te fazer de putinha aqui igual na cadeia!”, antes que eu pudesse dizer que não estuprei ninguém, que eu era inocente, eu levei um tapa na cara, outra puxada de cabelo e mais tapa, depois ele esfregou minha cara no abdômen do outro algoz. Nunca apanhei tanto na vida, não teve Direitos Humanos naquele recinto. A coisa foi braba. Minha amiga, coitada, eu estava apanhando tanto que não vi o que se passava com ela, só sabia que era ele e mais 3 homens grandes. Quando bateram na porta dizendo que acabou o nosso tempo, sério, foi o maior alívio da minha vida. Um dos caras já estava pegando uma corda para me amarrar e no caso da minha amiga um dos caras já tinha abaixado a sunga. A gente saiu no pinote daquele lugar. Lembrando, ninguém havia perguntado se podia fazer isso ou aquilo. Eu fiquei todo o tempo mudo e a minha amiga gritava assustada AI MEU DEUS, AI MEU DEUS a cada segundo.

Depois desses dois episódios nós fomos embora da Erotika Fair? Na verdade não... Mortificados de medo a gente pegou mais uma fila que não tínhamos percebido e essa estava vazia. Desta vez a sala não era escura e não havia cadeira. Mas, uma das paredes tinha diversos buracos com a largura de um braço forte. Eu que não sou trouxa já sabia o que tinha lá dentro, mas minha sócia não. Eu avisei “cuidado com a cobra, ela pode te picar!”. Não deu outra, minha amiga encontrou uma cobrona, segundo ela. Levou a picada e aí sim, nós fomos embora da feira.

Isso e outras coisas vocês podem encontrar na Erótika Fair 2014! Quem for, me conta depois da experiência!


Ah sim, minha amiga não estava grávida do falecido. Foi alarme falso.